sexta-feira, 13 de maio de 2016

Cat in the box: Cerveja em lata, sem preconceitos e sem superstições!

Eu confesso que adoro Sextas 13. Geralmente tenho boas notícias, ou pelo menos um dia feliz e agradável. Não sou das mais supersticiosas, mas respeito MUITO uma escada na parede, um sapato de ponta cabeça, uma acordadinha com pé direito. Sou adepta mesmo é do #vaique...

Mas quem sofre é sempre o coitado do gato preto. Já escrevemos sobre isso AQUI
Mas vamos falar de novo? VAMOS!

Porque tem gato novo no pedaço, é lançamento e tem uma coisa bacana nisso tudo: é pra quebrar preconceitos, paradigmas, superstições. E quer preconceito cervejeiro maior que cerveja artesanal em lata?

EM LATA?

É. em lata. E cerveja nacional. Digo e repito a todos há algum tempo, cerveja artesanal em lata mantem o frescor, não altera o sabor e, melhor ainda, gela mais rápido nos casos de extrema necessidade. 

Recentemente tivemos, em São Paulo, uma brassagem coletiva das cervejarias Dádiva, Urbana, Dogma, J.Beer e Perro Libre. Todas em lata. E foi onde uma nova receita da Cat in the Box, da Urbana, foi feita.

A Cat in the Box é receita antiga, de 2008. Sofreu algumas alterações em muitas brassagens que nem saíram pro mercado, antes mesmo da Cervejaria Urbana ser comercial. Uma cerveja do estilo Imperial Stout, intensa, com 100 IBU, que não desequilibram com seus 11% de abv. No aroma, além do malte torrado, evidencia-se o dulçor do cacau adicionado à receita. Cremosa, escura, de corpo brilhante e textura aveludada. Impacto de álcool no primeiro gole, amargor e dulçor perfeitamente harmonizado, enaltecendo as notas de cacau, baunilha e café expresso. Seu aquecimento persiste e pede o próximo gole. Sem falar do rótulo, uma obra de arte felina!

Harmoniza bem com uma sexta-feira fria, gato dormindo no pé da cama, filme típico do estilo  - ou quem sabe Walking Dead ou GoT pra quem gosta. Eu vou de NetFlix, assistindo "Love, Rosie". Harmonizando com pipoca! #ossommelierpira

Sim, Sextas 13 são de boas notícias, boas energias e bons momentos!

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Mãe, só tem uma!

Mãe é mãe, e elas tem esta capacidade de nos apoiar incondicionalmente, mesmo que não entendam patavinas o que fazemos. A minha era assim. ERA.

Ela curtia e compartilhava TODOS os meus posts de cerveja sem nem saber o que era uma Stout, IPA ou cerveja não pasteurizada. Um belo dia, ela me ligou e disse: “Me diz o que eu posso pegar de cerveja no seu quarto, porque olha, essas aqui da geladeira não dá mais pra tomar não...”

Sorri e chorei. Por um lado minha incentivadora tinha virado uma nova amante de cervejas especiais; seu paladar tinha apurado e agora ela já não mais tomava Skol. Mas isso também significava uma considerável baixa no meu estoque pessoal, porque ela não brinca em serviço viu...

Minha mãe tem um paladar até que bem amplo. Gosta das amargas, faz cara feia mas gosta. Gosta das escuras mas nunca toma o copo todo. O que ela toma sem “mas” é Pilsen mesmo. Geralmente separo pra ela uma ou outra mais frutada, Witbier ou American Wheat. 

Para ela, a perfeita do dia das Mães será a Vedett, uma witbier belga que eu, por acaso, encontrei no Pão de Açúcar a um preço tão prostituído que não vou poder escrever, ou a censura me pega aqui. Mas estava próxima ao vencimento e pra balizar, com o valor da caixa de 24 unidades que trouxe no port-malas, eu mal compraria 3 unidades...

A Vedett é uma Witbier, estilo que usa trigo não-maltado, semente de coentro e casca de laranja. Uma cervejaria mais comercial na Europa, com ações tipo a da Coca-cola, onde você manda uma foto e eles imprimem no rótulo. Simpático não? Tem ótima drinkability, cerveja de cor amarelo-palha, turva e ótima formação de espuma. Aroma com notas cítricas, evidenciando a semente de coentro que dá um toque condimentado junto com o floral do lúpulo. Baixíssimo amargor, sabor de pão e fermento no retrogosto provenientes do trigo e da fermentação. Possui uma boa acidez seguida do amargor bem leve e agradável, com 4.7% ABV que nem marcam território.

Ano passado dei de presente pra Dona Vânia, essa minha mãe, uma cesta de cervejas; ela, com sorriso na orelha disse: “Olha, eu tenho as minhas próprias cervejas!”

Tão bonitinha, mas meu irmão tomou todas, para seu azar e tormento materno. Este ano ela vai ganhar uma TV, só que ainda não sabe. E pior: certeza que vai me cobrar suas próprias cervejas...

Saúde e vida longa às mamães!

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Gato preto cruzou a estrada!

Dizem por aí que sexta-feira 13 é um dia de azar....
Aliás, o número 13 está associado ao azarado, errado, do infortúrnio. Em alguns lugares do mundo, como Nova York, alguns prédios nem tem o 13o andar. Somado ao dia que Jesus Cristo foi crucificado, sexta-feira, é uma junção de superstição e cuidados extras - além, claro, de rituais. Para o cristianismo, a desconfiança com relação à sexta-feira 13 remonta às religiões pagãs. Acredita-se também que o dia tenha recebido seu nome em inglês (Friday) em homenagem a uma deusa nórdica chamada Frigga. Para os cristãos, essa figura podia significar uma ameaça à religião controlada por homens e, por isso, os padres a caracterizaram como bruxa. A deusa também se reunia com doze outras bruxas, consagrando-se a 13ª do círculo. Apesar de o número 13 ser considerado azarado hoje em dia, em culturas antigas ele já foi associado à sorte e sacralidade, ligado à morte, não no sentido negativo mas sim como um renascimento e transformação, conotação que permaneceu, mas outras culturas que enxergam a morte como algo negativo se apropriaram disso e associaram o número à má sorte.

Tradicionalmente, alguns elementos conhecidos como azarados, são associados à Sexta-Feira 13. E, infelizmente, o mais famoso deles é o gato preto. A ideia de que gato preto traz má sorte existe desde a Idade Média, quando foi considerado bicho de estimação de bruxas, e até hoje é bastante procurado para rituais de magia negra - ou apenas para maldade mesmo, que vai de estourar o rabo com bombinhas à perfuração de olhos e retiradas de vísceras. Quem é gateiro sabe a preocupação que as entidades tem com estes bichanos, chegando até mesmo a cancelar a adoção nas vésperas de sextas-feiras 13.



E, eis que, para hoje, temos uma perfeita! Uma cerveja forte, encorpada e também cheia de tradição: Invicta Black Cat, uma black IPA - ou IBA, indian black ale - lançada pela Cervejaria Invicta na época da reformulação da sua marca, em março de 2015. A Black Cat é, na realidade, a antiga Invicta Black Ale, num rótulo BEM mais interessante. Apresenta um conjunto de lúpulos equalizado com maltes torrados, trazendo força e robustez num corpo de 7.5% de abv e 75IBU. De cor preta opaca, tem espuma bege média, boa carbonatação, aroma floral, notas já conhecidas em ipas de maracujá bem marcadas, o que evidencia o uso de lupulos americanos. Logo em seguida, sentimos as notas torradas, com café, chocolate amargo. Aliás o amargor, em sabor, está presente do começo ao fim do gole, mesclado com o sabor torrado e levemente cítrico. No final, amargor e secura.

Uma cerveja licorosa e intensa, que fecha bem uma sexta-feira nada tranquila. Para quem, nestas datas, morre de medo de cruzar com um gato preto, garanto que a Black Cat não traz nenhum azar, muito pelo contrário! Aliás, no rótulo, como não amar, um gatinho! E um breve aviso: "Azar mesmo é não cruzar o caminho desta India Black Ale". Quem avisa amigo é.

Saúde, à nós e aos nossos bichanos, de todas as cores!

^..^

:)

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Duchesse, uma perfeita nunca citada

Sobre mulheres e cerveja, há sim uma favorita.

Sempre me fazem esta pergunta, e minha resposta é que não há uma favorita. Há um estilo do momento, um rótulo que me encantou e repito por vezes. Há a mais comentada, a mais cara, a mais bem-quista. E então que percebi a recorrência em que peço a minha favorita.

Esteve presente na celebração do aniversário, no curso de sommelier, em chopp e garrafa, na loja de cerveja, no encontro com amigos. Sempre lá, eu sempre pedindo, ela sempre me fazendo sorrir. E nunca havia a colocado no hall das perfeitas, sequer citado seu nome: Duchesse de Bourgogne. Por que meu Deus?

Primeiro, um rótulo bucólico. Paz, pássaro, serenidade, seriedade. Pintura, muito amor.
A simplicidade. O rótulo é uma homenagem à Duquesa de Borgonha Mary, nascida no século 15 nos arredores de Bruxelas. Com 20 anos Mary herdou o ducado e ficou conhecida por ser uma mulher com temperamento forte e decidido, que fez com que a França reconhecesse o poder que a província de Borgonha tinha. Mas aos 25 anos a duquesa faleceu em uma queda de cavalo perto da região de Bruges.
Até hoje, é uma cerveja que nos remete à realeza. Não só pelo nome, mas por alguns fatores curiosos, como ter sido servida no casamento real do príncipe Frederik da Dinarmarca com a princesa Mary, em 2004. Coincidência?

Segundo, um estilo diferenciado, que pode ser o primeiro passo ao estilo mais difícil das cervejas, ou completamente mal-interpretado. A Duchesse (não confundam com a Duchessa, da Birra del Borgo) é uma Flanders Red Ale, estilo tradicional da região de Flandres na Bélgica (ou grande-Bruxelas), mais parecido com vinho, por conta de sua cor e sabor acético, ou “avinagrado”. Produzida desde 1885 pela Verhaeghe-Vichte, é envelhecida por anos em barris de carvalho compostos por lactobacilos responsáveis por "azedar" a bebida. Mas o produto final, engarrafado e refermentado na garrafa, é um blend geralmente feito entre três safras, de 6, 12 e 18 meses. Para isso, além do cervejeiro está envolvido o trabalho de um blender especial para esta “alquimia”.

O resultado é uma cerveja delicada porém complexa, de 6.2% de álcool, com aromas adocicados, que remente à cerejas e frutas vermelhas, mas com notável acidez balsâmica. Seu corpo, médio, de tom marrom acobreado, levemente turvo, servido em taças, tem uma espuma de baixa formação e persistência. No paladar, já nem tão doce, explode uma complexidade de gostos, um dulçor de malte mais frutado, uma acidez intensa, melaço e vinagre se equilibrando, notas salgadas de leveduras, amadeirado das barricas, frutas secas e até mesmo taninos suaves, o que a leva tão próximo do mundo do vinho. A Duchesse inclusive é considerada a cerveja que contem notas mais vinificas dentre as cervejas. O final é seco, ácido e ávido por mais um gole.

Além de uma das minhas perfeitas, a Duchesse de Bourgogne é, assim como a Rodenbach Grand Cru, seu “primo-irmão” (uma versão “pour homme” dela, comparando dulçor e acidez), uma das mais conhecidas e importantes representantes do estilo. Gosto de harmoniza-las com sobremesas cremosas sem chocolate, ou quebrando caldos gordurosos.

Hoje já encontramos a Duchesse em versões long neck, mas eu gosto do tradicional, a garrafa rolhada, que está aqui, de abajour, me acompanhando nos estudos.

Perfeita até pra isso!

Santé!



sexta-feira, 12 de junho de 2015

Muito amor envolvido

Dia dos namorados. A gente sabe que a data aqui no Brasil é puramente comercial, pré-evento do Dia de Santo Antônio – que já me ajudou na vida, ou não – mas que a data pesa, ela pesa! Mundo todo comemora em fevereiro, e isso acaba sendo a grande desvantagem da globalização. Solteiros viajantes sofrem em mais idiomas. Casados e relacionados gastam em duas moedas. 

E a sexta-feira hoje será quente! Jantares românticos à vista,  a propaganda do Boticário bombou – e o Egeo vendeu como nunca por puro recalque de consumidores que vestem a causa, como eu. E hoje, no kit presente romântico, vai uma cerveja mais que perfeita. Perfeita porque começando pelo rótulo, dispensa cartões e declarações: I love with my Stout. Se eu amo com a minha stout, é muito amor envolvido.

Acompanhando os textos desde 2011, sabemos que Stout é um dos meus estilos favoritos. Logo, é muito amor envolvido.

E quem declara amor com cerveja... meu amigo, minha amiga. Isso é muito amor envolvido.

Ainda sobre a perfeita, a “Love” (para os íntimos) é da EvilTwin, cervejaria dinamarquesa dona de rótulos incríveis e de receitas irreverentes – além de nomes fora do comum. Seu nome, “gêmeo diabólico”, vem do fato de o fundador, Jeppe Jamit-Bjergsø, ser irmão gêmeo de Mikkel Borg Bjergsø, fundador da Mikkeler, outra cervejaria dinamarquesa famosa. Então, uma certa rivalidade nasceu para criarem as receitas mais diferentes. Ruim pra eles, ótimo pra gente que se beneficiou da rivalidade fraterna! Ambos têm o mesmo esquema de produção: são cervejarias ciganas, ou seja, não têm fábricas e fazem suas brassagens mundo afora, com outras cervejarias parceiras, inclusive no Brasil. Como Jeppe mora em NY, a Love foi foi produzida na Two Roads Brewery de Connecticut.

A Love é uma Imperial Stout, ou seja, mais alcoólica que as Stouts tradicionais, tem 12% de abv. Densa e encorpada, é negra e quase cremosa, lembra óleo de motor, porém opaca e com espuma também densa e persistente. No aroma, notas de cacau, baunilha, canela, caramelo. Parece doce como o amor (e como chocolate), com o álcool latente que inebria. Então, no paladar, o relacionamento se torna real: uma enxurrada de amargor que equilibra com as notas torradas de malte – queimadas. O doce chocolate se torna um “100% cacau”. Preenche a boca, com carbonatação perfeita, deixando um retrogosto de chocolate amargo. Notas de frutas vermelhas quando assenta no copo. Sabe o namoro e encantamento no o aroma e a realidade no paladar? O resultado é relacionamento sério no retrogosto: você quer mais.


Uma cerveja altamente recomendada para os beer-lovers, chocolate-lovers e os love-lovers. Harmoniza bem com chocolate – eu jogaria chocolate branco, pra quebrar e porque é meu favorito. Lambuzaria com sorvete, na orgia da fava de baunilha, e até, porque não, tomaria direto da pele do meu amor cervejeiro.

Cheers. E mais amor por favor.

sábado, 4 de abril de 2015

Sobre cervejas, chocolates e o preço dos Ovos de Páscoa.

A gente aqui, 18+, já sabe que o chocolate que faz o ovo de páscoa e o tablete é o mesmo, e por isso nos revoltamos tanto ao pagamos 528% a mais na mesma mercadoria em shapes diferentes. A não ser que falemos de um artesanal de colher, trufado ou feito pela avó, não vale MESMO a pena pagar R$24,90 em 180grs de chocolate, 2 bombons e papel alumínio.

Ben10, Peppa Pig, Barbie, Trakinas e tantos atributos pascalinos não funcionam mais com a gente. Mas que tal cerveja? Minha ideia para esta Páscoa: uma cerveja e um tablete de chocolate, divinamente harmonizados. Vale mais que qualquer ovão de Nhá Benta, acreditem em mim...

Chocolate e cerveja se conversam há tempos, afinal temos cacau na receita de tantas nacionais e até mesmo importadas, como a Brooklyn Chocolate Stout, a Yongs Double Chocolate Stout e Meantime. Chocolate harmoniza por semelhança com cerveja de malte torrado e por diferença nos casos dos brancos com as fruitbeers, por exemplo. Segue algumas dicas, todas de cervejas que já passaram por aqui – ou seja, perfeitas!

Os tradicionais:

Chocolate ao leite




Ah, mas é claro que eu escolhi um Lindor. Não é porque estou deixando o glamour dos ovos de páscoa eu quero pouco. Tem a cremosidade, o sabor de chocolate mais “limpo”, as bolinhas tem um tamanho ideal pra morder, bebericar e criar uma nova experiência de sabor! E, porque o chocolate ao leite é mais adocicado, sugiro a Young’s Double Chocolate Stout. A mistura do leite e cremosidade do chocolate e o torrado da cerveja vai dar um clima de Mocha no paladar. Algo entre o fantástico e o inigualável.
Dica 2: vale um Gold Bunny da Lindt tb. Eu me renderia...

Chocolate amargo / >70% cacau


“Gente mas ela só conhece Lindt?”



Acho chique, mas confesso que não é nem de longe uma opção pra mim. Cerveja para mim é amarga, chocolate doce. Tenho isso muito bem definido no meu paladar, rs! Mas para quem gosta, quanto mais cacau melhor. E para harmonizar, vamos atrelar o torrado do malte com o amargor do chocolate. A Wäls Petroleum é perfeita, porque além de ser maturada com cacau belga, tem um teor alcoólico alto, que causa sensação de aquecimento na boca e ajuda a derreter o chocolate.

Chocolate Branco


Meu favorito. E você vai me dizer que não é chocolate de verdade. Concordo, mas fazer o que? E quando você provar este Casino Chocolat Blanc talvez concorde comigo. Chocolate branco nada mais é do que um “creme de gordura e açúcar”. Sim, é. Mas harmonize então com algo que quebre esta gordura e balanceie o dulçor excessivo com a acidez e carbonatação, como uma fruit lambic ou fruit beer (uma mais ácida, outra mais doce). Como a minha favorita Früli parece que nunca vai vir pro Brasil, outra perfeita é a Hoogarden Rosée, com toque de coentro como sua madre witbier, mas com raspas de framboesas.

Os incrementados:

Chocolate Trufado

Como tem menos açúcar e rum na composição, porque não inovar? A perfeita Strong Ale Vintage Coopers é safrada e produzida com malte especial, maturada em barris de carvalho por 5 anos. Com seu teor alcoólico mais elevado e o sabor puxando para frutas secas, harmoniza com o sabor quase-que-alcoólico da trufa, e atenuando o amargor.


Chocolate com frutas vermelhas



Branco ou ao leite, as frutas vermelhas sempre se evidenciam nesta combinação, trazendo notas de morango, cereja ou framboesa. Para equilibrar o dulçor do chocolate e acidez das frutas, vamos de fruit lambic. A Timmermans Framboise é uma boa pedida, já que é maturada em barril de carvalho, ácida e com adição de framboesa in natura. O dulçor desta combina bem com o chocolate e deixa o todo equilibrado, doce como a vida. Ou ainda, para ir mais para a acidez e menos para o frutado, dando vez aos mirtilos - aquela frutinha quase preta quase roxa cheia de encantamentos - que tal a Sherwood Forest, Maiden's blueberry Ale?


Prestígio / Chocolate com coco


Coco. Nada mais a declarar. Pra quem gosta, nirvana. Pra quem não gosta, fiapo. Mas vamos alinhar aqui que a mistura Nestlé Prestígio deu super certo e já virou até ovo de colher beijinho – vale também pra harmonização.
Com coco a harmonização nunca é a mais fácil, mas vale uma do estilo inglês, envelhecida com esteres de coco queimado, mais licorosa e alcoólica. Assim, “de bate pronto” penso na Innis&Gunn, que provei em Londres e quando falamos de Scotch Ale é ela que corre na minha memória. Mas já que estamos falando de um chocolate querido nacional, vale provar com a Wee Haevy, da Bodebrown, que tá aqui na minha prateleira esperando alguém me dar um prestígio pra harmonizar.


Chocolate com avelãs


Nuts. Aqui a gente pode falar de amêndoas, nozes, avelãs, castanhas, amendoim. Deixa a língua mais lisa, engordurada – gordura boa – e um sabor mais terroso na boca, amendoado, acastanhado... Neste caso, a melhor pedida é evidenciar o sabor mas limpar a gordura do palato. Claro que a sugestão mais óbvia seria da Way Avelã Porter. Mas eu fui lá atrás nas anotações e encontrei a Madera. Uma Old Ale piracicabana de 9% abv, também maturada em barril de carvalho e de notas tão amendoadas quanto qualquer Talento.
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Ok, então você decidiu mesmo que quer presentear com um ovo. Minha sugestão: meia-banda, pequena, de colher, harmonizada. Ainda fica mais barato que o Nestlé Classic.

Brigadeiro

A receita é simples, brasileira e inigualável. Dispensa apresentações e harmoniza bem com outra brasileira, claro. Por uma ironia e uma das minhas lindas, nunca escrevi sobre a Colorado Demoiselle – me retratarei em breve – mas acho opção mais que válida uma Baden Baden Stout. Por quê? Porque é chocolate e ponto. Acho que este tipo de doce e este tipo de cerveja dispensam explicações longas. #partiupaodeacucar

Nutella


É um creme de avelãs, ok? E sofro MUITO bullying por não morrer de amores por Nutella. Eu era apaixonada, mas acho que era trauma por não poder comprar. Daí, em Londres, comprei tanta Nutella na Poundland (versão grinda das lojas “tudo por 1 real”) que enjoei rude.

Bom, por ser um creme de avelãs, sugiro tanto as citadas nos chocolates com nuts acima quanto a minha querida Old Rasputin. Seca e amarga, mistura com a Nutella criando além de uma nova viscosidade, um sabor menos doce, mais torrado. Então, bullyers, podem me dar quantos potes de Nutella forem!

Limão


Doce de adulto, e ironicamente um dos meus favoritos. Azedinho, doce, cremoso, tropical. Geralmente gosto desta opção com chocolate branco, porque acho que os sabores se combinam melhor, mas é pessoal. E pessoalmente também sugiro uma Witbier, porque eu gosto da leveza dos dois. Mas acho também que uma Berliner Weiss Limão dá o toque da harmonização por semelhança perfeita, no cítrico, na acidez e no dulçor!

Nhá Benta

Não podia faltar na lista, e se você ainda não comprou o ovo e tá super a fim de uma filona na chocolateria mais famosa do Brasil (aviso: é nacional sabia?), vale colocar na sua cestinha uma Cream Porter. Porque o marshmallow é doce como açúcar, a gente não quer mais nada doce por aqui. Vamos balancear e criar a cremosidade perfeita em boca com a Way Cream Porter. Acho a mais válida, mas as Porters em geral seguram muito bem esta barra que é amar Nhá Benta na Páscoa...


De qualquer forma – barra, ovo, creme, de colher, na panela, no bolso – chocolate e cerveja forma uma dupla e tanto. Estas dicas valem pra Páscoa, para o bolo de aniversário, para a Festa Junina, Natal, sábado a noite em casal ou pra amenizar TPM. :)

Feliz Páscoa!

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Cerveja velha de guerra!

Pra falar da perfeita de hoje a gente volta um pouco no tempo... Primeiramente, 2008, o ano em que uma garota de sorriso largo e inglês macarrônico começa a trabalhar em um pub tradicional inglês, pertinho da famosa Picadilly Circus (ou, para os brasileiros atentos e turistas, perto da Lillywhites. Vcs sabem do que falo). Lá que conheci  - provei e odiei – a cask ale.

Cask ales, ou as “Real Ales”, são cervejas não pasteurizadas e não filtradas, condicionadas (inclusive na refermentação) e servidas a partir de um barril sem adição de pressão de nitrogênio ou gás carbônico. Para servir, já que não há pressão, uma torneira especial é utilizada, com bombas manuais ou elétricas – adoro as manuais, que são hidráulicas -  e dão aquele charme ao servir. Por estarem na temperatura ambiente e não terem pressão, apresentam uma carbonatação mais baixa e preservam assim suas características sensoriais. São mais terrosas, denotando o forte aroma de lúpulos ingleses, e os maltes e fermento aparecem nítidos e frescos. 


Na prática, falamos de uma cerveja quente e choca (definição honesta de quem tinha acabado de conhecer uma cerveja “diferente”). Na teoria, falamos da Real Ale, defendida pelos tradicionalistas como a cerveja de verdade. As Cask Ales são a base de toda a tradição cervejeira britânica. Com algumas modernizações à parte, os métodos são os mesmos utilizados há séculos. Esta tradição é tão forte que após sofrer um relativo declínio no final do século passado, um movimento de consumidores que buscava resgatar e preservar esta cultura chamado “Campaign for Real Ale” (ou CAMRA) exerceu com sucesso grande pressão política e cultural no mercado britânico. As Cask Ales hoje trazem até um selo do CAMRA que lhe dão notoriedade e respeito. Hoje, entendendo um pouco mais disso tudo, lembro-me dos festivais do pub e das minhas camisetas de uniforme com este selo que eu nem “conhecia mas hoje considero pacas”. Por enquanto, não temos Cask Ales no Brasil mas....

Eis que entra a Spifire.
Cerveja carregada de história, valor e muito sentimento. Feita pela Shepherd Neame, a cervejaria mais antiga da Inglaterra, que começou sua produção em 1698 (nome de uma de suas cervejas).  A Spitfire foi lançada em 1990, ano de comemoração dos 50 anos da batalha da Grã-Bretanha, para angariar fundos para ajudar os feridos e prejudicados em guerra, como soldados, filhos de pilotos e afins. Seu nome vem do caça britânico Supermarine Spitfire, que ficou famoso pela sua performance, mas principalmente por levar às tropas na Normandia barris de cerveja na segunda guerra. E essa é a melhor parte da história: imaginem que numa guerra, receber suprimentos de primeira necessidade já é complicado, então o que dizer sobre cerveja? Foi quando os pilotos do Spitfire da Royal Air Force (força aérea britânica) tiveram uma idéia... Como o Spitfire tinha suportes sob as asas para bombas ou tanques,  veio a brilhante ideia de substituir as bombas por barris de cerveja. Além disso, com o Spitfire voando alto o suficiente, o ar frio em altitude gelava a cerveja, tornando-a pronta para o consumo no momento da chegada.
Em tempo, uma variação deste método foi utilizar um depósito de combustível de longo alcance, modificado para transportar cerveja em vez de combustível. Esta modificação recebeu uma denominação oficial “XXX”, que, ainda, também dá nome a mais uma cerveja. Conhecem?

Bom, mas voltando a Spitfire em um dos posts mais longs da história do MC.... Uma cerveja do estilo Kentish Ale. Paremos novamente.

Kentish Ale é uma denominação de origem, afinal, na Inglaterra os melhores lúpulos são plantados na região de Kent, mas apenas as cervejas produzidas em Kent podem ser chamadas de Kentish Ales. Ainda, foi em Kent que ocorreu a batalha da Grã-Bretanha, uma batalha aérea entre a Luftwaffe (força aérea alemã) contra a Royal Air Force durante a segunda guerra mundial.

A Spitfire, seguindo este estilo, é uma das mais clássicas e tradicionais cervejas Ale inglesas. Uma infusão de 3 lúpulos de Kent conferem uma bitter autêntica, cor de cobre, baixissima carbonatação, espuma bege e pouco persistente, aroma terroso carregado de frutas e lúpulo. Aliás, quanto lúpulo, de sabor, aroma e origem!

E a novidade é que, mesmo não tendo a Spitfire em cask, agora a teremos no Brasil em barril mesmo, o tal do keg. Já a temos, há algum tempo, engarrafada. Deve chegar por aqui em algumas semanas, o que, acreditem ou não, dá uma bela diferença no sabor, deixando-a mais fresca, já que não precisa ser pasteurizada como na garrafa. Mesmo que seja um pouco mais carbonatada, já que em keg há adição do gás, ainda é a Spitfire velha de guerra! ;)

Para quem tiver a oportunidade de provar a Spitfire em cask lá na gringa, é uma experiência válida e incrível. Nosso paladar – feminino e cervejeiro – amadurece, e hoje aquela quente e choca que me fazia caretas é uma cerveja respeitada e tradicional! Tê-la em chopp aqui será voltar um pouquinho no início da minha paixão, e é um acalanto pra aguardar minha tão esperada próxima viagem ao velho mundo – e velhos tempos.

Cheers!

terça-feira, 17 de março de 2015

Pela simplicidade de São Patrício


St. Patrick's Day há muito não é novidade. E hoje me peguei numa retrospectiva, daquelas de nos deixar viajando, durante minutos a fio com cara de bobo. 

Vivo o St. Patrick's Day há exatos 6 anos, desde o primeiro, em Londres, onde fiz AQUELE pub crawl, com 14 pubs e muitas pints. Em 2011, com o nascimento do Mulheres e Cerveja, camisetas, posts, barulho. Em 2012 mais um tour, mas em SP, que terminou numa fatídica festa - e talvez este tenha sido o mais incrível de todos. Então, a vida sacole
jou e eu passei 2013 trabalhando e conseguindo, por fim , uma pint de Guinness no fim de um domingo quente e cansativo na Austrália. Ano passado, comemorei mais que o St. Patricks, era um aniversário em plena segunda-feira.

E este ano... sem expectativas, sem celebração planejada, vendo o mercado cervejeiro se ouriçando pela inserção de corante na cerveja. Depois de muitos anos sorrindo por São Patrício, hoje meu ponto de vista é no mercado, nas cervejas artesanais - embora esteja sim hoje vestida de verde com meu AMADO suspensório da Heineken. Pensei em tantas cervejas boas para se escrever - as novas Fio Terra e Trimiliqui, da Urbana, que finalmente chegaram no mercado, a linda da Yba-la, Green Cow, Holy Cow, as zilhões de lançadas e premiadas no festival semana passada...

Mas sabe... acho que existe um determinado momento que só queremos tomar uma cerveja e celebrar. Sem "sommelierie". Pensei no barulho que o filme da Budweiser no final do Superbowl fez e quantos beerlovers se sentiram intimamente magoados. Seguindo esta linha, fui em todos os momentos que achei que fosse entendida no assunto da cerveja por aqui. Pensei na Duff verde que tomei em 2012 e achei o máximo do incrível. Pensei na minha primeira Rauchbier tomada no O'Malleys em 2011, num copo descartável. Pensei na Proibida, que provei em 2012 e escrevi aqui, e hoje relendo até pensei em apagar, mas achei honesto mostrar que falta de conhecimento não é vergonha - e ainda semana passada defendi a Proibida num grupo do facebook, usando os argumentos da minha primeira aula de Sommelier: não existe cerveja ruim. Passo o ano enchendo a boca pra falar que não vendo Guinness - mas "pera", tenho um ponto de vista, adoro Guinness! - e hoje eu PRECISO de uma pint perfeitamente tirada. Passei meus últimos meses dizendo "lightstruck" com conhecimento de causa e hoje me visto de Heineken, uma das marcas que mais admiro no mercado cervejeiro.

Cerveja é paixão doente, quase um time de futebol. Os amantes de cerveja, que caem na armadilha do mercado das cervejas "especiais", se tornam engessados. E hoje eu elegi o St. Patrick's Day como o "Dia de tomar cerveja e só". Quero quebrar isso em mim mesmo, me libertar da amarra da Sommelier e apenas viver a marca que este dia se tornou. Claro que quero cerveja boa, mas hoje eu prometo não escolher, não argumentar, não seguir o padrão de avaliação cor-aroma-sabor-corpo. Hoje eu vou tomar cerveja PERFEITA, dançar, me divertir, ouvir música, comer, sair, o que for, mas hei de terminar a noite dizendo: As coisas boas vêm para aqueles que esperam!

E quem sabe amanhã volto a ser a velha mulher que acha que entende de cerveja, que diz que mantem um blog, e que promete todos os dias escrever sobre esta ou aquela perfeita, mas que anda mais trabalhando com cerveja do que para a cerveja. ;)

Cheers! De verde!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Deliria, a Delirium feita por mulheres

E para começar no primeiro post do ano bem feminina – antes do carnaval o ano sequer começou vai - vamos de rosa.

Teve uma cerveja, guardada há meses, comprada em dose dupla – e degustada coincidentemente ao mesmo tempo! - que foi presenteada pra uma das amigas que amam rosa (a cor). Foi a Deliria, a Delirium feita especialmente por mulheres. Edição especial feita para o Dia Internacional da Mulher, em março do ano passado. Na realidade não foge muito da receita da Delirium Tremens, a azulzinha – azul é cor de menino! – da Brouwerij Huyghe. Mas é melhor.

Uma vez citamos aqui uma analogia que vou repetir: a mulher foi feita da costela do homem (Porter x Stout - a missão de uma resposta) assim como a Deliria foi feita da costela da Tremens. Novamente no caso destas cervejas, “uma é teoricamente mais forte que a outra, mas no fundo as duas são feitas do mesmo barro e são igualmente complexas. E fascinantes.”

A Deliria segue a mesma “receita” mas foi produzida em evento especial na cervejaria. E, claro, teve sua edição limitada. A Deliria é uma Belgian Strong Blond Ale (uma Ale mais alcoólica e adocicada) que passa por uma segunda fermentação na garrafa e apresenta aromas e sabores equilibrados, com notas frutadas, florais e leve lúpulo. Com 8.5% de teor alcoólico, assim como sua precursora Tremens é bem carbonatada, com espuma bem marcante branquinha, doce, com aromas florais e frutados e na boca um toque de maçã, especiarias e um quase zero de amargor, mas com álcool bem evidente pra quem é mais sensível. Um pouco mais cítrica que a Tremens, e também mais interessante. Não vou seguir a máxima que é uma cerveja para o sexo forte não. Pelo contrário, é uma cerveja feminina, marcante e envolvente. Muito bem vestida, com um rótulo encantador, é ele que dá aquela primeira conquistada – a tal da primeira impressão que fica. Mais doce e mais arrebatadora, seu álcool pode derrubar mais rápido os despreparados.

E, claro, é mais cara.

Mas nada que os homens não estejam acostumados não é?

E por ser rosa, doce, feminina, encantadora e, de novo, rosa, em muitos quesitos ela se torna uma perfeita. Pra celebrar amizade, cores, sabores, cidades e delírios.

Cheers!

PS: Depois desta leitura, vale uma visita no site da Delirium. Há uma versão do site em 3D que dá mais vida ao elefante rosa" :)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Eu sou Gordelícia!

Ok, muita gente pode não concordar, mas sou sim uma Gordelícia. Mesmo não estando na minha pior forma, nunca me sentirei magra. Aliás, tirando a minha mãe, acho que mulher nenhuma se sente, né?

O fato é que sempre levantei a bandeira de que mulher é magra pras outras mulheres, que homem gosta é de ter onde pegar, onde apertar. Sempre defendi a “teoria da picanha”...

Teoria da picanha é que devemos todas ser uma carne nobre. Todo homem adora picanha, o melhor corte da carne. Alguns gostam da picanha com a gordura, dizem até que dá mais sabor à carne. Outros, mais fit, retiram a camada de gordura. Dizem que mata! O importante aqui é sempre focar o público-alvo. O foco é nos que querem mais sabor e menos mimimi. Meu público nunca foi o mundo fitness. Nunca tive vergonha de mostrar – a sós - minhas pequenas saliências. Porque existe espaço pra todas, o importante é sempre ser uma carne nobre.

Mas aqui falamos de... cerveja! E todo homem que gosta de uma boa picanha gosta de uma boa cerveja.

Sim, eu sou Gordelícia. Sou Urbana na realidade. A Urbana é uma cervejaria paulista, metropolitana, do Jabaquara. E criativa, muito criativa. À sua frente o mestre-cervejeiro André Leme, que tem as criações de rótulos pouco convencionais, de desenho criativo e receitas inovadoras. A Gordelícia é o carro-chefe da cervejaria, que ainda conta com rótulos como Refrescadô de Safadeza, Boo!, Trem Bão, La Sorciere, Sporro, Piscadinha e o último lançamento, a Prima Pode. Posso afirmar – tentando ser imparcial - que todas são perfeitas. Cada um no seu quesito: tem a do meu rótulo favorito, tem a da minha receita favorita, a do nome favorito, a que eu vendo mais.... E tem a Gordelícia, que é de tudo um pouco.

Esta gordinha seduz. Seduziu até o homem que não gostava de cerveja, que busca proteína e passa a noite regado à energético. Encontrou nela proteína e energia. Intensa, encorpada, doce. Uma cerveja com todos os atributos femininos, que passeia na boca, que revela sabores. Das frutas tropicais brasileiras à levedura belga, ela percorre cada cantinho da boca. Seu aroma? Perfume, não aroma. A cor? Clássica. A espuma? Marcante. O alcool? Presente e para derrubar os que não estiverem preparados para seu golpe de perna: 7.5% de abv. Uma Belgian Strong Golden Ale, de cor amarelo-palha, tem adição de malte de trigo e cereais flocados, trazendo corpo e volume. No aroma, cravo e banana. No sabor, baixo amargor, textura de pele macia – esta gordinha usa monange! – com um final adocicado.

Perfeita. Pra comprar, pra vender, pra beber, pra presentear e até mesmo pra seduzir. De mulher pra mulher.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Branca de Neve, com cravo e canela!

Que eu sou uma mulher de muitas fases todos sabem. De roupas a perfumes, eu cismo com cores, sabores, músicas... e cervejas! Há pouco tempo estava numa fase witbier. Comprando Hoergaaden no Pão de Açúcar e Wäls Witte no Delirium, fiquei quase um mês presa na cerveja branca de toque cítrico. Tudo começou com a perfeitíssima Blanche Neige, que é de quem falo hoje. Sim, já adiantei: ela é perfeita.

Naquele mesmo jantar harmonizado do “top sundae”, a provei pela primeira vez, e confesso, algumas vezes depois. (E de tão inebriada, fui além na linha e, audaciosa, um bolo de aniversário foi feito. Mas esta é outra história. Escrevo sobre isso logo mais.)

Estamos falando da Dieu du Ciel!. Assim mesmo, com exclamação. Micro-cervejaria canadense, de Quebec, de receitas originais e, repetindo a palavra, audaciosas.  A cervejaria artesanal foi inaugurada em 1998 por Jean-François Gravel, que acredita fortemente em cervejas que levam ao caminho da inovação e caráter. Com receitas interessantes, por exemplo a híbrida imperial Stout/Saison colaborativa com a Shiga Kougen no Japão, ou a sua Rosée d'hibiscus, uma cerveja rosa/laranja de trigo fermentada com flores de hibisco, vemos que a Dieu du Cieu! não têm medo, é ousada e interessante. Muito interessante. É considerada a cervejaria número 1 do Canadá e hoje a 13º melhor do mundo. Tudo porque dentre as mais de 12.000 cervejarias cadastradas no site RateBeer, a Dieu du Ciel! foi eleita entre as 15 melhores do mundo em 2013. Ainda, no top 50 de cervejas canadenses feito pelo mesmo site, aparece 11 vezes, ou seja, é um grande nome no mercado mundial de cervejas. Três de suas cervejas têm nota 100/100 no site – que é um dos portais de referência no mundo cervejeiro.

E eu comecei – a beber e escrever – com a perfeita e exótica Blanche Neige (Branca de Neve). Uma Imperial Witbier que, além das clássicas sementes de coentro e cascas de laranja características do estilo, têm adição de especiarias. É produzida apenas uma vez ao ano, para aquecer – e aquece, com seus 8,3% ABV – os meses de inverno canadense. Foge do típico, tirando espaço do tradicional sabor do trigo e cítrico abrindo espaço para uma explosão de... festa junina! Desculpem-me os cervejeiros clássicos, mas foi esta mesmo a emoção. O alto teor alcóolico e os aromas marcantes de cravo e canela me levaram direto para sentar ao lado da fogueira tomando algo muito melhor que quentão.
 De cor amarela forte e viva, com espuma boa e branquinha, a Blanche Neige domina o copo com seu aroma de cravo, canela, notas cítricas doces e um frutado intenso de pêssego. No sabor, malte e um “azedinho” proveniente das leveduras, então um sabor seco e levemente salgado – típico da witbier – contrasta com o aroma doce e fecha o paladar, com um levíssimo amargor e um quê picante que incita o próximo gole. Deixa um retrogosto doce, cravo e canela ainda dominando a cena mas com a sedução do álcool. Quem está com água na boca?

Cerveja de inverno, rótulo de inverno, tomada no meio de uma primavera que trouxe uma noite fria e perfeita para que a Blanche Neige entrasse no hall das minhas perfeitas. Ao lado de uma Belga, de uma Escocesa e de uma Brasileira, esta Canadense hoje se exibe pretensiosa e cheia de charme neste hall da fama da Catarina.


Santé!