domingo, 30 de março de 2014

Catarina no país das Maravilhas (Brooklin Brewery)

Cada viagem, uma cervejaria local.

Esse é o lema de cada viagem, programada ou não. E às vezes são as viagem não programadas que trazem os momentos mais felizes.

O fato é que fui comprada. Num relacionamento onde um ama e o outro odeia carnaval, o meio termo às vezes surpreende. E eu troquei 4 dias de samba, suor e cerveja por 4 dias de neve, frio e óbvio, cerveja. Fui “avisada”, num ticket quase que surpresa, na quinta-feira antes do carnaval, que iríamos para Nova York. Mala de botas, cachecóis e casacos pronta, embarcamos no melhoooor estilo American Airlines e chegamos lá, num sutil -6C. A programação da viagem, feita nas 24 horas que antecederam a decolagem, veio uma luz: Eu.Vou.Visitar.A.Fábrica.Da.Brooklyn.

Meu Deus do céu! Então a ansiedade bateu. Já visitei muitas cervejarias, em muitos lugares, mas esta... Não sei dizer se era por ser a Brooklyn, que já tinha tomado tantas vezes, por não ser tão comercial, ou se era porque era NY. Apostas? Juntemos os dois e lá estava eu, em pleno domingo de carnaval, de casaco, cachecol, bota, luva e gorro, botando minha câmera pra tirar fotos cinzas, verdes e douradas.

A Brooklyn Brewery é carregada de uma história sonho de consumo de qualquer designer. Cervejaria fundada em 1988 por dois amigos que abandonaram seus empregos pra viver de cerveja (sonho), batizaram a marca após conseguirem alugar um galpão de distribuição nos “arredores” de Nova York a cerca de U$1 o metro quadrado, já que a cidade estava em crise e o bairro fadado à derrota. A então Brooklyn Brewery precisava de uma logomarca. O amigo e designer gráfico Milton Glaser, mais conhecido como o criador do logotipo para a campanha “Eu amo Nova York”, foi convidado para criar o logotipo da empresa e sua identidade. Sem muita grana e com uma excelente visão de “ninguém fecha um bom negócio sem uma ou duas cervejas na cabeça”, os sócios convenceram o designer amigo a fazer a marca por uma humilde participação nas vendas das cervejas. Hoje a Brooklyn distribui para cerca de 25 estados e 20 países. Bom negócio, eu diria...

Cervejaria crescendo, o comércio local impediu que a Brooklyn saísse do bairro (precisavam de mais estrutura para engarrafamento e distribuição)  e lhe permitiu realizar uma expansão 6,5 milhões dólares da cervejaria em 2009 – com o crescimento da Brooklyn, todos os comerciantes do bairro tiveram medo que o bairro do Brooklyn voltasse a ser o mesmo distrito industrial abandonado dos anos 80 e investiram neste crescimento. Outro bom negócio, eu diria.

Após esta expansão, hoje a Brooklyn é a cervejaria artesanal que mais exporta nos EUA. E hoje, visitar o bairro do Brooklyn foge totalmente da rota turística de Manhattan, mas vale a pena. É lá onde os alternativos de NY vivem, e onde antigamente o bairro era alvo de piadas dos nova-iorquinos e reino dominado pela máfia, e é “graças” a cervejaria (entre-aspas, claro) que o bairro hoje chama a atenção cultural e gastronômica de Nova York.

Aqui já falamos dela logo no começo da delícia de IPA favorita do Chefe Ali e sobre a Sorachi Ale (que virou pôster lá em casa). Hoje vamos falar de quem não é exportada, logo especialmente consumida dentro da cervejaria: A Brooklyn Silver Anniversary Lager. Era uma das especiais do dia (uma outra veio na mala pra depois), comemorando 25 anos da cervejaria e o rótulo é feito por artistas locais, celebrando também as bodas de prata do renascimento cultural do Brooklyn. A cerveja é refermentada na própria garrafa, e seu sabor se preserva o mesmo hoje ou mesmo em anos. Inspirada nas cervejas do século 19, é uma versão doppelbock da Brooklyn Lager original de 1988. Com aroma doce e frutado, exala uma mistura de caramelo do malte torrado e um toque de especiarias – o que eu particularmente já esperava, vendo o tom nebuloso e vermelho-alaranjado do corpo, bem colocado na taça Brooklyn que veio pra casa. Uma espuma (creeeme) bege clara, não muito persistente. Forte mesmo para aquele inverno, doce pelo malte frutado mas amarga na medida denotando presença do lúpulo, com final prolongado seco, com um retrogosto amendoado.

Li algumas resenhas locais sobre esta edição e algumas palavras como “surpreendente”, “maravilhosa” e “nobre” me ajudaram muito no julgamento de PERFEITA da viagem. Achei que pudesse ser um tanto parcial por toda a aura da viagem, pelo encanto de estar de volta à Big Apple ou qualquer sentimento de êxtase que trouxesse mais brilho do que o rótulo merecia. Mas não, estava sendo realista mesmo.

Tão perfeita quanto Nova York, sob frio, neve e passeios congelantes pode ser. Pra quem gosta, sempre perfeita.

Fábrica da Brooklyn - mais fotos da visita no facebook!
Cheers!