sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Eu sou Gordelícia!

Ok, muita gente pode não concordar, mas sou sim uma Gordelícia. Mesmo não estando na minha pior forma, nunca me sentirei magra. Aliás, tirando a minha mãe, acho que mulher nenhuma se sente, né?

O fato é que sempre levantei a bandeira de que mulher é magra pras outras mulheres, que homem gosta é de ter onde pegar, onde apertar. Sempre defendi a “teoria da picanha”...

Teoria da picanha é que devemos todas ser uma carne nobre. Todo homem adora picanha, o melhor corte da carne. Alguns gostam da picanha com a gordura, dizem até que dá mais sabor à carne. Outros, mais fit, retiram a camada de gordura. Dizem que mata! O importante aqui é sempre focar o público-alvo. O foco é nos que querem mais sabor e menos mimimi. Meu público nunca foi o mundo fitness. Nunca tive vergonha de mostrar – a sós - minhas pequenas saliências. Porque existe espaço pra todas, o importante é sempre ser uma carne nobre.

Mas aqui falamos de... cerveja! E todo homem que gosta de uma boa picanha gosta de uma boa cerveja.

Sim, eu sou Gordelícia. Sou Urbana na realidade. A Urbana é uma cervejaria paulista, metropolitana, do Jabaquara. E criativa, muito criativa. À sua frente o mestre-cervejeiro André Leme, que tem as criações de rótulos pouco convencionais, de desenho criativo e receitas inovadoras. A Gordelícia é o carro-chefe da cervejaria, que ainda conta com rótulos como Refrescadô de Safadeza, Boo!, Trem Bão, La Sorciere, Sporro, Piscadinha e o último lançamento, a Prima Pode. Posso afirmar – tentando ser imparcial - que todas são perfeitas. Cada um no seu quesito: tem a do meu rótulo favorito, tem a da minha receita favorita, a do nome favorito, a que eu vendo mais.... E tem a Gordelícia, que é de tudo um pouco.

Esta gordinha seduz. Seduziu até o homem que não gostava de cerveja, que busca proteína e passa a noite regado à energético. Encontrou nela proteína e energia. Intensa, encorpada, doce. Uma cerveja com todos os atributos femininos, que passeia na boca, que revela sabores. Das frutas tropicais brasileiras à levedura belga, ela percorre cada cantinho da boca. Seu aroma? Perfume, não aroma. A cor? Clássica. A espuma? Marcante. O alcool? Presente e para derrubar os que não estiverem preparados para seu golpe de perna: 7.5% de abv. Uma Belgian Strong Golden Ale, de cor amarelo-palha, tem adição de malte de trigo e cereais flocados, trazendo corpo e volume. No aroma, cravo e banana. No sabor, baixo amargor, textura de pele macia – esta gordinha usa monange! – com um final adocicado.

Perfeita. Pra comprar, pra vender, pra beber, pra presentear e até mesmo pra seduzir. De mulher pra mulher.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Branca de Neve, com cravo e canela!

Que eu sou uma mulher de muitas fases todos sabem. De roupas a perfumes, eu cismo com cores, sabores, músicas... e cervejas! Há pouco tempo estava numa fase witbier. Comprando Hoergaaden no Pão de Açúcar e Wäls Witte no Delirium, fiquei quase um mês presa na cerveja branca de toque cítrico. Tudo começou com a perfeitíssima Blanche Neige, que é de quem falo hoje. Sim, já adiantei: ela é perfeita.

Naquele mesmo jantar harmonizado do “top sundae”, a provei pela primeira vez, e confesso, algumas vezes depois. (E de tão inebriada, fui além na linha e, audaciosa, um bolo de aniversário foi feito. Mas esta é outra história. Escrevo sobre isso logo mais.)

Estamos falando da Dieu du Ciel!. Assim mesmo, com exclamação. Micro-cervejaria canadense, de Quebec, de receitas originais e, repetindo a palavra, audaciosas.  A cervejaria artesanal foi inaugurada em 1998 por Jean-François Gravel, que acredita fortemente em cervejas que levam ao caminho da inovação e caráter. Com receitas interessantes, por exemplo a híbrida imperial Stout/Saison colaborativa com a Shiga Kougen no Japão, ou a sua Rosée d'hibiscus, uma cerveja rosa/laranja de trigo fermentada com flores de hibisco, vemos que a Dieu du Cieu! não têm medo, é ousada e interessante. Muito interessante. É considerada a cervejaria número 1 do Canadá e hoje a 13º melhor do mundo. Tudo porque dentre as mais de 12.000 cervejarias cadastradas no site RateBeer, a Dieu du Ciel! foi eleita entre as 15 melhores do mundo em 2013. Ainda, no top 50 de cervejas canadenses feito pelo mesmo site, aparece 11 vezes, ou seja, é um grande nome no mercado mundial de cervejas. Três de suas cervejas têm nota 100/100 no site – que é um dos portais de referência no mundo cervejeiro.

E eu comecei – a beber e escrever – com a perfeita e exótica Blanche Neige (Branca de Neve). Uma Imperial Witbier que, além das clássicas sementes de coentro e cascas de laranja características do estilo, têm adição de especiarias. É produzida apenas uma vez ao ano, para aquecer – e aquece, com seus 8,3% ABV – os meses de inverno canadense. Foge do típico, tirando espaço do tradicional sabor do trigo e cítrico abrindo espaço para uma explosão de... festa junina! Desculpem-me os cervejeiros clássicos, mas foi esta mesmo a emoção. O alto teor alcóolico e os aromas marcantes de cravo e canela me levaram direto para sentar ao lado da fogueira tomando algo muito melhor que quentão.
 De cor amarela forte e viva, com espuma boa e branquinha, a Blanche Neige domina o copo com seu aroma de cravo, canela, notas cítricas doces e um frutado intenso de pêssego. No sabor, malte e um “azedinho” proveniente das leveduras, então um sabor seco e levemente salgado – típico da witbier – contrasta com o aroma doce e fecha o paladar, com um levíssimo amargor e um quê picante que incita o próximo gole. Deixa um retrogosto doce, cravo e canela ainda dominando a cena mas com a sedução do álcool. Quem está com água na boca?

Cerveja de inverno, rótulo de inverno, tomada no meio de uma primavera que trouxe uma noite fria e perfeita para que a Blanche Neige entrasse no hall das minhas perfeitas. Ao lado de uma Belga, de uma Escocesa e de uma Brasileira, esta Canadense hoje se exibe pretensiosa e cheia de charme neste hall da fama da Catarina.


Santé!

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Grand finale (russian style)

A vida segue, e a gente tenta tirar sempre o melhor de tudo isso. E no meio de uma mudança abrupta, um jantar entre amigos, que estão sempre por perto. Jantar queima de estoque, como chamamos, que marcou a última noite no apê. Resolvi celebrar – embora não fosse motivo de comemoração, mas de novo, tirar o melhor de tudo – e fazer um jantar de harmonização. Meio confuso, confesso, mas que no final das contas foi como sempre inesquecível.

Nesta noite, entre IPAs, Wheatbeer e Lagers, um grand-finale! E é sobre esta “receita” que falo hoje, a da sobremesa. No sábado anterior, indo para a aula, estava lendo a coluna da Cilene Saorin na Revista Mesa, um dos materiais que temos no curso de Sommelier, e ela falava da combinação Stout + sorvete de baunilha. E minha mente foi além... E então a Sandra, do Cevadaria, me sugeriu a Old Rasputin para esta harmonização.

Não sei quem acertou mais.

A Old Rasputin é uma Russian Imperial Stout, o estilo de cerveja mais intenso e encorpado. Aliás, coincidência ou não, segundo relatos históricos o estilo foi feito sob encomenda em meados do século 18 pela Rainha Catarina II da Rússia, que naquela época comprava barris de cerveja escura feitos em Londres. Era então uma Stout "anabolizada", com mais malte e maior teor alcoólico, exatamente para não congelar na viagem, já que tinha que suportar a congelante viagem pelo mar Báltico. Foi então honrosamente chamada de Russian Imperial Stout.

Na garrafa, de rótulo interessante - figura esquisita do barbudo fazendo um sinal sinistro – com uma imagem (e nome) baseada em Grigori Rasputin, um conselheiro paranormal da Rússia Czarista, considerado um bruxo ou "monge do mal" por muitos, que viveu no século 19 mais de 100 anos após o reinado de Catarina I. A Old Rasputin, produzida pela North Coast Brewing Company, cervejaria americana da Califórnia, é uma cerveja escura, preta, bem densa e opaca, com espuma de ótima qualidade e estabilidade. No aroma, notas de café e malte torrado e já podemos notar o álcool. De corpo denso e forte, no gosto sentimos o malte torrado, o amargor terroso (no gosto, retrogosto, aftertaste, o que quiserem chamar, afinal são 75 IBU) e uma pontinha de chocolate de final seco. É, afinal, uma cerveja equilibrada, de alta cabornatação e altíssimo aquecimento. Boa para fechar a noite, principalmente em dias frios. Sugere-se que estejam acompanhados, afinal são 9% de abv! ;)

Na taça, duas bolas de sorvete, uma dose do tal honroso líquido negro acima e, sobre a espuma formada que condensou, cobertura de chocolate Hersheys, que tem um sabor de chocolate mais intenso que as coberturas para sorvete (não é doce tipo candy sugar, é mais maltada e com sabor de “chocolate do padre”, ou cacau). Nota para o approach estético: 10!

No sabor, a quebra de paradigmas. O intenso amargor e secura da Old Rasputin eram atenuados pelo sorvete de baunilha e complementado pelo chocolate. O caldo formado pelo sorvete derretido e a cerveja na taça adicionava a baunilha à cerveja, trazendo um terceiro sabor, licoroso, ainda um tanto amargo mas com uma finalização da baunilha e um aroma de chocolate que invadia toda a taça. Intenso para os amigos não cervejeiros; e surpreendente mesmo para os que sabem que eu sempre tenho algo na manga nos jantares que marco com a querida “equipe”. E, confesso, surpreendente até para mim, que já havia harmonizado tantas vezes a combinação Stout + sobremesa, mas que esta ficou incrivelmente (e emocionalmente) inesquecível.

Perfeita para encerrar um ciclo e começar um ainda mais intenso!

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Um ano depois, perfeita.

Ultimamente estudar cerveja tem sido muito mais o foco do que escrever sobre. E não é que tenha abandonado o propósito da busca, mas é que degustar uma cerveja se tornou muito mais abrangente. A cada dia mais apaixonada e inspirada por tudo isso. Estou devorando o livro “A mesa do mestre cervejeiro", do Garrett Oliver – entre outros dois livros que alimentam a alma – e confesso que a vida tá bagunçada, bagunçada, então eu acabo tendo tanto tempo livre quanto arranjo coisas randômicas pra fazer.

Então eis que noto no calendário: Austrália. Esta semana fez exatamente um ano do retorno de uma experiência de carga emocional pesada, talvez até então o maior divisor de águas da vida. Fui pra não voltar, e em 6 meses a realidade me chamou de volta. Muita coisa na vida mudou, MUITA. Muitas ainda não se encaixaram, mas posso dizer que foi lá que eu decidi estudar cerveja pra valer, e voltei com esta pulga atrás da orelha. Hoje estou na metade do caminho para a primeira formação, e cada vez mais em busca de outros cursos e inspiradas pelos caminhos a seguir. Talvez tenha sido este o legado que a Austrália deixou, quem sabe...

E duas “aussies” me cruzaram o caminho recentemente. Uma deliberadamente na prateleira do Empório Santa Maria, que chamou pra matar a saudade do que foi bom; e outra em aula, que inclusive usei numa degustação entre amigos há poucos dias. Ambas da Coopers, maior cervejaria local da Austrália, que fica em Adelaide e é uma empresa familiar constituída em 1862, iniciada por Thomas Cooper, que na realidade queria mesmo era produzir uma espécie de tônico para sua esposa doente, e acabou por produzir cerveja bem quista. Feliz acidente de percurso! Conhecida por fazer uma variedade de cervejas especiais, a mais famosa das quais são sua Pale Ale e Sparkling Ale (sensacionais), e todas produzidas somente com água, malte, lúpulo e levedura (amável Reinheitsgebot, a Lei de Pureza Alemã!). Suas cervejas passam por uma segunda fermentação dentro da garrafa, que lhes confere maior frescor e validade mais longa. A cervejaria vendeu 69,7 milhões de litros de cerveja no último ano, o que pra população da Austrália é cerveja per capita a rodo... 

Então, na ordem de bebericagem, falemos primeiro da Coopers Best Extra Stout. Escura como Stout, encorpada como Extra Stout. Cerveja aromática, com notas do malte torrado e ainda café e chocolate amargo. Uma espuma densa e no gosto o amargor equilibrado com o doce do malte caramelizado, mas com a boca invadida pelo sabor do malte torrado, café e nuts. Final forte e amargo, mas feliz. Talvez mais feliz se tivesse acompanhado aquelas minhas adoradas panquecas doces, fofinhas, carregadas de maple syrup e sorvete de baunilha – cuja ideia me veio à cabeça e não saiu até o dia seguinte, mas já não tinha mais a Coopers pra harmonizar, foi “a seco”. Fica pra próxima!

Pouco tempo depois, fui apresentada em aula à Coopers Vintage Ale, uma Strong Ale, estilo inglês de Ale, safrada e produzida com malte especial, maturada em barris de carvalho por 5 anos. Na degustação, provei as safras de 2012 (presente!) e 2013, e sim, dá pra notar a diferença sutil entre as safras – claro, se as tomarmos juntas. O aroma amadeirado até me deixou confusa com o estilo, um forte aroma de álcool, que lembra rum, whisky. Notas de frutas secas, presença sutil do lúpulo que dá porém um amargor notável e sensacional (depois li que usa-se nela o lúpulo Saaz, uma variedade que dá um amargor com notas florais, e que por acaso ultimamente as minhas favoritas cervejas são feitas com Saaz ou com ele na mistura. Coincidência?). Como no aroma, previa que o ABV não era baixo, mas me surpreendeu com seus 7,5%. No sabor, o equilíbrio entre o amadeirado e frutado, entre o doce e amargo. Corpo médio, cor âmbar estonteante que a fez entrar no hall das favoritas e, porque não dizer, perfeita para encerrar um ciclo.

Austrália deixou frutos. Ideias, aprendizados, e, agora, cervejas, para sempre na memória. Deixou experiências que levaram um ano para maturar e enriquecer, exatamente como a Vintage.

G’day!

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Sobre Mulheres, Cervejas e Copas num dos gols da Alemanha

Eu vou contra o homem que acha que mulher não entende de cerveja, mas se este homem acha que mulher não entende de futebol... é, ele estaria certo no meu caso. Eu até sei o que é impedimento (juro!), mas estou longe de poder manter uma conversa agradável por mais de 1 minuto. No caso da seleção Brasileira até consigo citar metade da escalação e olhe lá. Por isso foco na cerveja!

E se tem algo que a Alemanha faz bem - além de montar uma seleção homogênea, focada, equilibrada, com controle dos passes e com jogadores mais experientes, que já participaram de outras copas e que.... ops, me empolguei! - é cerveja. Historicamente. E, coincidência ou não, grande parte das cervejas degustadas sábado foram alemãs. Vale explicar o "sábado"... Voltei às aulas e me matriculei no curso de Sommelier de Cervejas do Senac. Ainda MUITO a aprender, mas o coração já bate feliz em saber cada sábado um pouquinho mais!

E, guiada pela brilhantíssima Cilene Saorin, degustamos 6 rótulos, um nacional e o restante alemão. Coincidência? "I don't think so"... Ainda, um dia antes da fatídica partida de futebol fui presenteada com mais um excelente rótulo alemão, que já havia tomado anteriormente, quando ganhei o rótulo de amigo secreto e fiz o post pra entrar feliz em 2012, a Münchner Kellerbier Anno 1412.

Dentre todas estas alemãs (seis, quase sete) falemos da Ustersbacher Dunkel Weisse. Rótulo da cervejaria Brauarei Ustersbach, localizada em Usterbach, ao sul da Alemanha desde meados do século 17, esta Dunkel Weisse (ou dunkelweizen) - cerveja escura com trigo - de cor castanha, corpo turvo e boa espuma, tem no seu aroma notas de banana, caramelo e cravo. No sabor, bom equilíbrio, notando-se o salgado característico do trigo, equilibrando com a acidez e doçura, do caramelo e banana. Pouco amargor, deixa um gosto doce na boca, diferente do futebol que encaramos.



Excelência na cerveja, excelência no futebol, a Alemanha pode ter deixado um gostinho amargo além do lúpulo para muitos brasileiros, mas para mim foi especialmente perfeita!

Ein Prosit. Sete vezes...

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Pra matar as saudades

É sabido que eu sou apaixonada pela Inglaterra. Que tenho adesivos pela casa aclamando a rainha, que tenho preferência pelo sotaque britânico, que fiz amigos pra vida do outro lado do oceano e, principalmente, que as cervejas de lá estão no meu hall de favoritas.

Não por acaso ganhei este rótulo. E foi dado, esticando o braço entregando a sacolinha com as palavras: “Ó, pra vc matar a saudade da sua terra favorita”.

Thoroughbred. De nome tão impronunciável quanto qualquer cidade inglesa, esta cerveja - Hambleton Ales Thoroughbred, nome completo – é feita pela cervejaria Nick Stafford's Hambleton Ales, que fica depois de York, interior ao norte da Inglaterra. É a cervejaria oficial das redondezas, desde 1991, criada por Nick Stafford e sua mulher. São 15 pessoas no total trabalhando na produção da cerveja, prova que sim, micro-cervejaria pode exportar e dar super certo! A cervejaria é conhecida por ter sido a primeira britânica a produzir cerveja sem glúten (GFA, sigla para glúten-free Ale), em 2005, uma whitbier que agradou os 100 mil celíacos ingleses. Logo depois lançou uma versão lager (GFL, glúten-free Lager)

Sobre a Thoroughbred (difícil até para digitar), é uma Pale Ale tipicamente inglesa, com uma espuma leve e corpo marrom acobreado. No sabor, amarga na medida, pale ale suave e refrescante, maltada e frutada no aroma e sabor com um toque cítrico.  Com 5% de ABV, combina bem o sabor e o teor alcoólico, não decepciona de maneira alguma.  Utiliza malte e lúpulo local, que traz originalidade à cerveja.



Cerveja mais que bem vinda, que estreou a parede de rótulos de cervejas recém-instalada, fundo perfeito para outras tantas aspirantes à perfeita!


Cheers – com sotaque britânico de Yorkshire!

domingo, 30 de março de 2014

Catarina no país das Maravilhas (Brooklin Brewery)

Cada viagem, uma cervejaria local.

Esse é o lema de cada viagem, programada ou não. E às vezes são as viagem não programadas que trazem os momentos mais felizes.

O fato é que fui comprada. Num relacionamento onde um ama e o outro odeia carnaval, o meio termo às vezes surpreende. E eu troquei 4 dias de samba, suor e cerveja por 4 dias de neve, frio e óbvio, cerveja. Fui “avisada”, num ticket quase que surpresa, na quinta-feira antes do carnaval, que iríamos para Nova York. Mala de botas, cachecóis e casacos pronta, embarcamos no melhoooor estilo American Airlines e chegamos lá, num sutil -6C. A programação da viagem, feita nas 24 horas que antecederam a decolagem, veio uma luz: Eu.Vou.Visitar.A.Fábrica.Da.Brooklyn.

Meu Deus do céu! Então a ansiedade bateu. Já visitei muitas cervejarias, em muitos lugares, mas esta... Não sei dizer se era por ser a Brooklyn, que já tinha tomado tantas vezes, por não ser tão comercial, ou se era porque era NY. Apostas? Juntemos os dois e lá estava eu, em pleno domingo de carnaval, de casaco, cachecol, bota, luva e gorro, botando minha câmera pra tirar fotos cinzas, verdes e douradas.

A Brooklyn Brewery é carregada de uma história sonho de consumo de qualquer designer. Cervejaria fundada em 1988 por dois amigos que abandonaram seus empregos pra viver de cerveja (sonho), batizaram a marca após conseguirem alugar um galpão de distribuição nos “arredores” de Nova York a cerca de U$1 o metro quadrado, já que a cidade estava em crise e o bairro fadado à derrota. A então Brooklyn Brewery precisava de uma logomarca. O amigo e designer gráfico Milton Glaser, mais conhecido como o criador do logotipo para a campanha “Eu amo Nova York”, foi convidado para criar o logotipo da empresa e sua identidade. Sem muita grana e com uma excelente visão de “ninguém fecha um bom negócio sem uma ou duas cervejas na cabeça”, os sócios convenceram o designer amigo a fazer a marca por uma humilde participação nas vendas das cervejas. Hoje a Brooklyn distribui para cerca de 25 estados e 20 países. Bom negócio, eu diria...

Cervejaria crescendo, o comércio local impediu que a Brooklyn saísse do bairro (precisavam de mais estrutura para engarrafamento e distribuição)  e lhe permitiu realizar uma expansão 6,5 milhões dólares da cervejaria em 2009 – com o crescimento da Brooklyn, todos os comerciantes do bairro tiveram medo que o bairro do Brooklyn voltasse a ser o mesmo distrito industrial abandonado dos anos 80 e investiram neste crescimento. Outro bom negócio, eu diria.

Após esta expansão, hoje a Brooklyn é a cervejaria artesanal que mais exporta nos EUA. E hoje, visitar o bairro do Brooklyn foge totalmente da rota turística de Manhattan, mas vale a pena. É lá onde os alternativos de NY vivem, e onde antigamente o bairro era alvo de piadas dos nova-iorquinos e reino dominado pela máfia, e é “graças” a cervejaria (entre-aspas, claro) que o bairro hoje chama a atenção cultural e gastronômica de Nova York.

Aqui já falamos dela logo no começo da delícia de IPA favorita do Chefe Ali e sobre a Sorachi Ale (que virou pôster lá em casa). Hoje vamos falar de quem não é exportada, logo especialmente consumida dentro da cervejaria: A Brooklyn Silver Anniversary Lager. Era uma das especiais do dia (uma outra veio na mala pra depois), comemorando 25 anos da cervejaria e o rótulo é feito por artistas locais, celebrando também as bodas de prata do renascimento cultural do Brooklyn. A cerveja é refermentada na própria garrafa, e seu sabor se preserva o mesmo hoje ou mesmo em anos. Inspirada nas cervejas do século 19, é uma versão doppelbock da Brooklyn Lager original de 1988. Com aroma doce e frutado, exala uma mistura de caramelo do malte torrado e um toque de especiarias – o que eu particularmente já esperava, vendo o tom nebuloso e vermelho-alaranjado do corpo, bem colocado na taça Brooklyn que veio pra casa. Uma espuma (creeeme) bege clara, não muito persistente. Forte mesmo para aquele inverno, doce pelo malte frutado mas amarga na medida denotando presença do lúpulo, com final prolongado seco, com um retrogosto amendoado.

Li algumas resenhas locais sobre esta edição e algumas palavras como “surpreendente”, “maravilhosa” e “nobre” me ajudaram muito no julgamento de PERFEITA da viagem. Achei que pudesse ser um tanto parcial por toda a aura da viagem, pelo encanto de estar de volta à Big Apple ou qualquer sentimento de êxtase que trouxesse mais brilho do que o rótulo merecia. Mas não, estava sendo realista mesmo.

Tão perfeita quanto Nova York, sob frio, neve e passeios congelantes pode ser. Pra quem gosta, sempre perfeita.

Fábrica da Brooklyn - mais fotos da visita no facebook!
Cheers!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Cerveja quente - no bom sentido!

E quem é vivo sempre aparece...

É verão. E o verão mais quente dos últimos 70 anos. Conversa de elevador à parte, conceitualmente o verão é o melhor amigo da cerveja  - que embora tenha seu berço nas terras frias, nós brasileiros e cervejeiros por natureza adotamos a máxima de que o verão pede uma boa loira gelada.

E na minha ainda habitada prateleira de cervejas patrocinadas, noto um rótulo enviado pela Clubeer perfeito para minha sensação térmica: a Labareda, da Coruja.

Eu sei, eu sei... a noite era para algo mais refrescante nos seus 30 e tantos graus, algo cítrico talvez, mas a cerveja com pimenta me desafiou. Uma cerveja fora-de-série, a segunda da Coruja, que é a nossa brasileira das invenções (já falamos sobre a Coruja aqui, nacional do sul com a tal cerveja viva, lembram?) e fez esta apimentada em parceria com o músico Wander Wildner - presente no rótulo inclusive. Ainda falando de rótulo, nada refrescante, pelo contrário, quente. Mas que diz refrescar, em suas palavras, "refresca a alma, o corpo e a mente". Uma cerveja curiosa e ousada. 

Uma larger que surgiu de uma Keller Bier, cerveja de porão, esfumaçada, com o acréscimo do fino malte Vienna e um toque de pimenta, o que torna a Labareda uma autêntica Rock Bier. Com retrogosto picante na medida, tem sua cor âmbar e espuma bege levíssima, onde nota-se o malte, um caramelo meio defumado e especiarias. Muito pouco amarga, que bem gelada desceu e sim... refrescou! Com seus 6.7% de ABV, não apimenta tanto a alma quanto a boca.

Um leve queimar nos lábios, acalentados pelo ventilador na cabeceira da cama e uma vontade absurda de... ar-condicionado!