Ultimamente estudar cerveja tem sido muito mais o foco do
que escrever sobre. E não é que tenha abandonado o propósito da busca, mas é
que degustar uma cerveja se tornou muito mais abrangente. A cada dia mais
apaixonada e inspirada por tudo isso. Estou devorando o livro “A mesa do mestre
cervejeiro", do Garrett Oliver – entre outros dois livros que alimentam a alma –
e confesso que a vida tá bagunçada, bagunçada, então eu acabo tendo tanto tempo
livre quanto arranjo coisas randômicas pra fazer.
Então eis que noto no calendário: Austrália. Esta semana fez
exatamente um ano do retorno de uma experiência de carga emocional pesada, talvez até então
o maior divisor de águas da vida. Fui pra não voltar, e em 6 meses a realidade
me chamou de volta. Muita coisa na vida mudou, MUITA. Muitas ainda não se
encaixaram, mas posso dizer que foi lá que eu decidi estudar cerveja pra valer,
e voltei com esta pulga atrás da orelha. Hoje estou na metade do caminho para a
primeira formação, e cada vez mais em busca de outros cursos e inspiradas pelos
caminhos a seguir. Talvez tenha sido este o legado que a Austrália deixou, quem
sabe...
E duas “aussies” me
cruzaram o caminho recentemente. Uma deliberadamente na prateleira do Empório
Santa Maria, que chamou pra matar a saudade do que foi bom; e outra em aula, que inclusive usei numa degustação entre amigos
há poucos dias. Ambas da Coopers, maior cervejaria local da Austrália, que fica em
Adelaide e é uma empresa familiar constituída em 1862, iniciada por Thomas
Cooper, que na realidade queria mesmo era produzir uma espécie de tônico para
sua esposa doente, e acabou por produzir cerveja bem quista. Feliz acidente de
percurso! Conhecida por fazer uma variedade de cervejas especiais, a mais famosa
das quais são sua Pale Ale e Sparkling Ale (sensacionais), e todas produzidas somente com
água, malte, lúpulo e levedura (amável Reinheitsgebot, a Lei de Pureza Alemã!).
Suas cervejas passam por uma segunda fermentação dentro da garrafa, que lhes
confere maior frescor e validade mais longa. A cervejaria vendeu 69,7 milhões
de litros de cerveja no último ano, o que pra população da Austrália é cerveja per capita a rodo...
Então, na ordem de bebericagem, falemos primeiro da Coopers
Best Extra Stout. Escura como Stout, encorpada como Extra Stout. Cerveja
aromática, com notas do malte torrado e ainda café e chocolate amargo. Uma
espuma densa e no gosto o amargor equilibrado com o doce do malte
caramelizado, mas com a boca invadida pelo sabor do malte torrado, café e nuts.
Final forte e amargo, mas feliz. Talvez mais feliz se tivesse acompanhado
aquelas minhas adoradas panquecas doces, fofinhas, carregadas de maple syrup e
sorvete de baunilha – cuja ideia me veio à cabeça e não saiu até o dia
seguinte, mas já não tinha mais a Coopers pra harmonizar, foi “a seco”. Fica
pra próxima!
Pouco tempo depois, fui apresentada em aula à
Coopers Vintage Ale, uma Strong Ale, estilo inglês de Ale, safrada e produzida
com malte especial, maturada em barris de carvalho por 5 anos. Na degustação, provei as safras de 2012 (presente!) e
2013, e sim, dá pra notar a diferença sutil entre as safras – claro, se as
tomarmos juntas. O aroma amadeirado até me deixou confusa com o estilo, um
forte aroma de álcool, que lembra rum, whisky. Notas de frutas secas, presença sutil
do lúpulo que dá porém um amargor notável e sensacional (depois li que usa-se nela o lúpulo Saaz, uma variedade que dá um amargor com notas florais, e que por acaso ultimamente as minhas favoritas cervejas são feitas com Saaz ou com ele na mistura. Coincidência?). Como no aroma, previa
que o ABV não era baixo, mas me surpreendeu com seus 7,5%. No sabor, o
equilíbrio entre o amadeirado e frutado, entre o doce e amargo. Corpo médio,
cor âmbar estonteante que a fez entrar no hall das favoritas e, porque não
dizer, perfeita para encerrar um ciclo.
Austrália deixou frutos. Ideias, aprendizados, e, agora,
cervejas, para sempre na memória. Deixou experiências que levaram um ano para maturar e enriquecer, exatamente como a Vintage.
G’day!
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