segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Em busca... parte 2 - Nostalgia engarrafada

Estamos em Campos do Jordão, caminhando e admirando a paisagem. Quando nos deparamos com um lindo espécime do sexo oposto, de avental e estacionado em frente ao bar da Baden Baden. E sim, mulheres adoram admirar belas paisagens enquanto bebem sua cerveja, então unimos o útil ao agradável e resolvemos provar algumas cervejas da Baden para chegar na visita à fabrica já com conhecimento de causa.

A primeira cerveja que pedimos foi a Red Ale, uma Double Red, com 9,2% de teor alcóolico, de coloração bem avermelhada, com sabor marcante e aroma caramelado. Sem dúvida uma das cervejas mais impactantes que já provei. Bastante intensa e amarga.

No cardápio do bar há sugestões de harmonização, assim como no rótulo da cerveja. Isso porque a Baden Baden é a primeira cervejaria brasileira com preocupação gourmet, ou seja, com a harmonização entre bebida e pratos.

Harmonização nada mais é do que combinar sabores. Quase como formar casais, agindo como cupido, analisando qual sabor tem coisas em comum com o outro, de vez em quando apostando que serão as diferenças que fortalecerão a união, às vezes querendo que se misturem a ponto de se confundirem e outras vezes querendo que um seja bem discreto para deixar o outro brilhar. Resumindo, aparentemente há muitas regras, mas no fundo pode-se ousar bastante.

A Red Ale tem um gênio difícil, o que torna qualquer harmonização complicada, ela não se mistura com qualquer um. O prato deve corresponder a ela em intensidade e força, o que não é tarefa nada fácil e sem dúvida será quase uma afronta a paladares sensíveis. 


Resolvemos não pedir nada, apenas provar essa garota geniosa de maneira tranquila e solitária.

E quando nossos copos ficaram vazios, sentimos que precisávamos de algo mais leve, para nos recuperar.

Foi quando ouvimos sinos e sentimos cheiro de canela. Para Catarina cheiro de infância que a fez entoar o seguinte mantra: "Meu deus, é nostalgia engarrafada!" Para mim a assossiação não foi assim tão simples, mas sem dúvida, concordei em tornar a Golden Ale a nossa mais nova eleita.

Golden Ale, a menina linda da Baden Baden.

Lógico que o que nos levou a esta decisão, não foi o simples aroma de canela, mas nos identificarmos com ela por ser uma cerveja feita com o propósito de agradar o paladar feminino (nós adoramos quando fazem coisas pensando na gente), por ter cor ouro avermelhada, sabor de especiarias e ser levemente adocicada.

A Slava (nossa para sempre primeira menina linda) ainda tem um sabor mais interessante, mas vendo a relação custo benefício, a Golden (nossa nova menina linda) ganhou mais pontos.

Afinal, a cerveja perfeita deve ser acessível também. Claro que pedimos uma segunda garrafa de Golden para confirmar a nossa opinião. E percebemos também que ela tem charme e jogo de cintura, pois é de fácil harmonização.

Saímos do bar Baden Baden inebriadas pela canela, felizes com nossa nova escolha e ansiosas com a visita na manhã seguinte. Claro que nem lembrávamos mais do lindo garçom que nos fez parar por ali. Vai ver ele era apenas o sinal enviado pelo acaso, para que parássemos e encontrássemos a Golden.

Nunca se deve duvidar das forças do acaso.

Continua...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sociedade da Cerveja

Porque às vezes a vida nos presenteia com coisas pequenas que nós alimentamos e tornamos grandes feitos.

Poeta. É como me sinto depois da noite de quarta-feira, onde a Catarina e a Renatinha foram convidadas, através de suas reais personagens Michelle e Renata, a compor a Sociedade da Cerveja, criada pela Ambev. 
A Sociedade da Cerveja tem um conceito bem legal de interatividade, o site tem artigos interessantes que atendem leigos e mais experientes, com história, conceitos, dicas de harmonização, curiosidades e, na área restrita, descontos e promoções especiais.

Sim, agora somos zitolibadoras de carteirinha. O primeiro encontro ocorreu no Bar do Nelson. Foi interessante ver que, de todas as mesas, a nossa era a única composta apenas por mulheres.
A apresentação da comunidade foi iniciada pela Gisele, que depois descobrimos ter muita coisa em comum com a gente, a começar pela dupla personalidade, assim como nós. Em seguida, foi o Caio, o cervejeiro, que ensinou a todos como manusear, servir, sentir e saborear 3 diferentes tipos de cerveja, além de contar muitas curiosidades sobre nosso precioso néctar.

A degustação começou pela Stella Artois (coincidentemente tema do último post), partindo para a Bohemia Escura e finalizando com a Leffe Brown. Seguindo a escala da mais suave para a de sabor mais marcante.

A Leffe Brown foi eleita a cerveja da noite, por ser uma cerveja encorpada porém de sabor adocidado leve, com um aroma de caramelo torrado, que dava um toque de “cerveja de mulher”. A Leffe é uma cerveja belga, que chegou no Brasil em 2007 através da Ambev. Não é uma cerveja daquelas que você toma aos montes sem perceber, ela é bastante intensa, e deve ser apreciada sem pressa.

Eu já conhecia a Leffe Blonde dos meus tempos de bartender e achava, dentre meu limitado conhecimento, a mais parecida com nossa brasileirinha. Tinha gosto de “quero voltar pra casa”. Hoje eu já não concordo mais com isso...

Foi uma degustação gostosa e espontânea. Tivemos nosso momento tiete e estrela, aprendiz e professora, onde vimos que nosso propósito da busca da cerveja perfeita é cada vez mais pertinente. E que, mais ainda, é muito bem recebido por todos que nos conhecem. Por isso, outras degustações virão, novas marcas, rótulos, conceito e, principalmente, história pra contar.

E, por falar em poeta... para as mulheres apaixonadas por Shakespeare: ele era um apreciador da arte cervejeira. Tanto que, em um de seus textos, a palavra "Ale" é mencionada 14 vezes, enquanto "beer" é citada outras cinco vezes.

É... nem só de amor vive um poeta. Salut!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Em busca... parte 1 - Os primeiros passos

Duas mulheres em busca da cerveja perfeita não podem se acomodar. Teem que ir a luta e vasculhar cada cantinho deste mundo para que nenhuma cerveja seja esquecida e nenhuma injustiça seja cometida. Por isso já colocamos o pé na estrada.

Fomos em direção à nossa primeira parada: Campos do Jordão, localização da fábrica da Baden Baden.

Bagagem levemente exagerada no porta mala, All Star nos pés, uma eclética seleção musical, Tanque cheio e no banco do passageiro uma copiloto que se perde até mesmo a pé e tendo mapa. Por isso nada melhor do que contar com a tecnologia do nosso ilustre amigo e membro da equipe: Fábio, o GPS.

Sim, porque algumas mulheres, como eu por exemplo, são perdidas e com senso de localização nulo, precisam de uma forcinha do Fabio ou até mesmo parar muitas vezes para perguntar, o que ambas odiamos...

Chegamos à Campos sem grandes problemas e após nos instalarmos, fomos ao trabalho. Ou seja, cerveja!

Já passava do meio tarde, a fome batia e então pedimos truta com hortelã e harmonizamos com Stella Artois. Truta é um peixe de rio e de sabor bem suave - mais detalhes sobre o prato no Blog GD.

Por isso escolhemos a Stella, cerveja belga, feita com ingredientes de primeiríssima qualidade, bem clara, cristalina, de suave amargor. Ela é bem balanceada, com um lado feminino bastante expressivo, bem saborosa. Está para as Lagers como a maquiagem para o ambiente de trabalho, ou seja, leve e elegante, sabendo ser marcante sem exageros.

Refeição perfeita, cerveja muito bem harmonizada, mas estamos em Campos, somos mulheres, e vamos combinar que mulher é movida a chocolate. Lógico que não perderíamos a oportunidade de atacar muitas ramas, barras, bombons e afins. Portanto acabamos a truta e corremos para a sobremesa.

E enquanto come-se chocolate, não dá para tomar cerveja, certo?

Pois é, iríamos descobrir mais tarde que isso não está tão certo assim. Tudo nessa vida pode ser resolvido de maneira muito simples quando se conhece a cerveja certa para cada ocasião.

Continua...

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Cerveja ou Chopp?

Hoje é sexta-feira, dia de cerveja. Ou seria melhor pedir um chopp? Não, mulheres, não são a mesma coisa.

Resumidamente, o processo de preparo é o mesmo, mas a cerveja passa por um processo de pasteurização logo após envasada, que impede-a de continuar fermentando, até para que a garrafa não estoure e ela possa ser conservada por mais tempo – o chopp dura em um barril por apenas 10 dias. Na técnica e na prática, são muitas diferenças, mas que passam despercebidas por muitas mulheres. Até porque, para a mulher a cerveja é como um grande objeto de prazer, não importa como, quando e onde.

Mas comparemos o chopp com um homem: Tem base familiar tradicional, tem cultura nativa da vida, tem força e brutalidade. Ele chega até você e fala justamente o que você PRECISA ouvir e te conquista. Não perde tempo, não tem tempo a perder. É mais quente, mais presente. Tem todo um estilo mais natural que te faz quere-lo rapidamente. O chopp é o homem de oportunidade, aquele que vem pronto e na medida para o consumo imediato. Tem gás suficiente para aquele momento, tem a espuma encorpada que faz sua aparência apetitosa, tem o suor no copo na medida que não deixa suas frágeis mãos escorregarem. Não o deixe para amanhã, pode já ter fermentado demais.

Já a cerveja é aquele homem que tem a mesma base do chopp, tem a mesma tradição, os mesmos princípios, mas é um gentleman que foi cuidadosamente ensinado, regrado e educado. Ele vem até você com mais classe, bem vestido, até rotulado com seus padrões. Ele tem porte e presença, mas é gentil, te refresca e te aquece, tem um toque mais sutil e te faz querer mais, saber mais, provar mais. Você pode até leva-lo para casa e apresenta-lo à familia, ele vem de uma escola onde muitos diferentes estiveram se preparando durante muito tempo, esperando o momento de te cortejar na mesa. Não se faça de rogada, este homem passou por altos e baixos para chegar até você.

A base é a mesma, os ingredientes são os mesmos, mas o approach é diferente. Qual afinal é o seu tipo de homem?

Momento cultura: A palavra chopp é derivada da palavra alemã Schopp, que significa uma medida equivalente a 300ml. ;)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Entre amigas

No tempo em que eu bebia, fumava e f@*&#!
O dinheiro rendia.

Agora não bebo, não fumo e não F@*@!
Me F@*@ toda.

Vou voltar a beber, a fumar e a F@*§♫!
Vocês vão ver.

Levante o copo. Veja embaixo a imagem do homem amado!
SAI DANADO! SAI DANADO!

Arriba, abajo, al centro, adentro!

E assim começa mais uma noite entre mulheres e cervejas.

Na última sexta feira fomos ao Coconut. Comemorar o lançamento do nosso blog e claro, tomar cerveja entre amigas.

Nada melhor para se fazer em um começo de noite de verão no último dia útil da semana. E não, não buscamos cervejas exóticas ou diferentes.

Não fomos ali a trabalho, na nossa jornada em busca da cerveja perfeita. Estávamos apenas relaxando de uma semana de muita correria e calor. Comemorando conquistas, contando novidades e compartilhando expectativas.

Nessas horas a grande preocupação são com as histórias, risadas e com o ambiente, que deve ser o mais agradável e acolhedor possível. Para conseguir esse ambiente acolhedor só estando na presença de velhas conhecidas, e por isso optamos pela Bohemia pilsen. Assim mantivemos o respeito à arte cervejeira sem sair de nossa zona de conforto. Afinal foi ela em um dia remoto, a primeira a me mostrar que há diferenças entre as cervejas e me abriu os olhos para esta arte.

Aliás o site da Bohemia é bem legal e pode-se aprender mais sobre cervejas, principalmente sobre a própria, na companhia do mestre cervejeiro.

A Bohemia foi criada em 1853, é produzida com malte importado e lúpulo de Saaz, da República Tcheca, ela é clara, leve e muito refrescante e possui aroma levemente frutado.


Nós estávamos lá, curtindo a noite, fazendo muitos brindes e nos divertindo horrores, quando de repente a nossa ilustre anfitriã, Lilian Gonçalves, dona não só do Coconut, mas de outros 4 bares na mesma rua, veio até nossa mesa para verificar se estávamos satisfeitas com o atendimento e ambiente.

Lilian Gonçalves
A presença dela causou um verdadeiro frisson à mesa, com direito a muitos flashes e elogios. Claro que não podia perder a oportunidade de contar a ela sobre nosso blog, notícia que foi recebida com toda sua natural simpatia e mais do que isso, ela abraçou a idéia a ponto de nos informar que ali acontece o Clube da Cerveja (evento em torno obviamente da nossa amada bebida) e que ela nos chamará para participar do próximo.

Preciso falar que ficamos histéricas?
Quase nada, só a ponto de nos tornarmos o centro das atenções do lugar. Vamos combinar que felicidade não é algo a se esconder, não é mesmo?

Isso é o que se espera de uma sexta-feira a noite. Juntar amigas ao redor de muita cerveja, com histórias para contar e motivos para comemorar e arrumarmos mais histórias e mais motivos para comemorar, e principalmente, deixar o bar cheias de expectativas.

Afinal são as expectativas que movem o mundo no universo feminino.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Beber, Servir, Amar

Cerveja, antes de ser uma paixão, antes de ser inspiração, era apenas um hábito. Um hábito de festas, de bar de faculdade, de churrascos onde a carne de baixa qualidade era 10% da compra e as latinhas semi-refrigeradas eram a atração. Mas depois de voltas que a vida deu, cerveja – e outras bebidas - virou trabalho, e é um pouco disso que vou contar.

Na minha temporada de 1 ano em Londres, entre estudos, passeios, baladas e muita diversão, trabalhei num típico pub britânico, onde pints eram servidas com fish’n’chips, festivais de vinhos e cervejas Ales faziam o calendário e mulheres bebiam exageradamente shots de tequila, apple sours ou sambuca (ah sambuca!). Sim, lá é comum ver mulher bebendo muito mais do que homem. E o final da noite – por volta da 1h da madrugada – é marcado por garotas em suas micro-mini-saias, laços, saltos, penteados e cores neon caídas pelos pontos de ônibus, calçadas, ou sendo atendidas prontamente pelos policiais e carros de resgate. Apenas um sábado de rotina na Inglaterra.

Já no quesito happy-hour, os londrinos são os melhores: às 18h pontualmente estão nos pubs, com suas famosas pints e taças de vinho diárias. Este público, mais adulto, é mais responsável – aliás o rigor da legislação da Inglaterra impressiona: não se dirige alcoolizado em hipótese alguma e, como a supervisão é pesada, isso é seguido à risca. E a noite termina cedo porque o tube (metrô) fecha cedo, por volta de meia-noite.

Foi uma época de beber muito. Mas melhor ainda, de beber bem, de conhecer novas bebidas, sabores e estilos. Bons vinhos são muito baratos, dispensando a dor de cabeça do dia seguinte. E eles fazem presença em openhouses, festas fechadas e reuniões de amigos, comuns por lá, acompanhando as famosas latas de cerveja do tamanho das pints, que eu não gostava por esquentarem rápido demais.  As ciders (cidra, ela mesmo, aquela baratinha do réveillon na Praia Grande) chamaram minha atenção. São variações, sabores e marcas diversas. Eu, que demorei para me adaptar ao sabor e temperatura das cervejas Lagers, me identifiquei bastante com elas, servidas em copos de pint (534ml) com muito gelo. Refrescante e leve, minha favorita era a Koppaberg Pear, garrafa de 500ml, cidra sabor pera. Mas a campeã de vendas é a tradicionalíssima Magners de maçã, fruta pioneira da bebida.

Vinho para quem é de vinho, cidra para quem é de cidra, mas aqui a gente fala de cerveja, não é?

Para mim, que tinha conhecimento limitado a gostar muito de Malzbier (ainda gosto) e saber que nossa cerveja é do tipo Pilsen, confesso que estranhei bastante as Lagers servidas nos taps e, principalmente, as de tipo Ale. Mas o tempo é o melhor amigo da técnica. Comecei a trabalhar no pub – The Moon Under Water, da rede J.D.Wetherspoon - com menos de 1 mês em Londres, inicialmente retirando pratos e copos, mas, mesmo sem muito saber falar inglês, fui arrastada para o bar logo de cara (para brasileira simpática e sorridente, inglês era “só” um detalhe). Foram dias de luta, a ponto de confundir Jack Daniels com Jagermeister, mas eu cheguei lá.

Aprendi a diferenciar por cor as cervejas lagers dos taps (draught beers): Coors Light, Forsters, Kronenbourg 1664, Carling... aprendi a diferenciar sabor, a defender cada uma delas de acordo com a busca do freguês: a mais leve, mais gelada , teor alcóolico... Habilidosa, tirava até 3 pints ao mesmo tempo, sem excesso de colarinho, que para eles é head. Era relativamente simples... tal qual um chopp. A Stella tinha seu procedimento mais peculiar, já que a taça em formato ovalado complicava o meio de campo...

As cervejas Ale eram um episódio à parte... “too bitter beers” para o meu paladar, encorpadas e amargas em grande parte, quando adocicadas era caramelizadas ou com notas de café, chocolate e por aí vai... (vamos falar muito sobre isso ainda). Quando não havia festival ou ação promocional, as frequentes no pub eram a Greene King IPA, Abbot, Pedigree, John Smith’s... estas, mais simples e comerciais, mas mesmo assim uma academia pra tirar: bombar o tap no ângulo certo, velocidade e força certa, e por muitas vezes o maldito barril estava no final e era só espuma. Comum, tanto que o tap era especial com uma bandeja para que pudéssemos sempre retirar o excesso de espuma ou deixar descansando. Em épocas de festival eram até 20 marcas diferentes, e os fregueses davam suas notas. Isso era divertido, ver a percepção de cada um para as Ales do dia. Só que cada dia eram 2, 3 novas e eu, desavisada, sempre me perdia. Afinal, num país cujo sotaque é o pior e um cidadão em seus 60 anos, falando na velocidade da luz pede uma cerveja que nunca se ouviu o nome e nem se sabe que está servindo: confusão na certa. Até o dia que eu aprendi a checar as Ales do dia e memorizar seus nomes. Algumas tinham o bico em forma de “chuveiro”, tinha que deixar descansando (settling down), eram servidas com ou sem colarinho... foram sextas e sábados de luta e copos quebrados. Queria me irritar? Half-pint. Acaba com a graça da brincadeira. Pior que isso, degustação dos festivais em copos de 1/3 pint. Praticamente um copo americano, faltavam as saudosas listras no vidro...

E então ela, a Guinness. Era a favorita do Nick, um – queridíssimo - colega do pub, que me ensinou a aprecia-la. Nas primeiras vezes, eu a achava tão forte que dizia que tinha gosto de carne. As exatas palavras dele foram : “No, it’s a whole meal in a glass!” (não, é uma refeição inteira num copo!). Lembrar do Nick é engraçado, eu sempre dizia que no dia que eu entendesse o que ele falava, eu entenderia qualquer idioma... Enfim, a Guinness! Dona de uma pint toda especial, com seus jeitos e trejeitos ao servi-la, tem porte, tem marca, tem presença. Tanto que a própria Guinness acompanha os bartenders ensinando-os como servi-la perfeitamente de tempos em tempos. E seus assíduos consumidores sabem como deve ser, e ficam em cima. Experimente servir uma Guinness espumante à um britânico ou irlandês e verá a mesma espuma sair da boca deles! Pressão total, medo. Mas, de tanto ver, ouvir e aprender com o Nick, nem foi assim difícil. A Guinness perfeita vem de um copo perfeitamente limpo, seco e nunca quente ou recém-lavado, colocado de ponta-cabeça em prateleiras separadas. Antes de abrir o tap, respire fundo e saiba que não é uma cerveja qualquer! O copo –com a logo da Guinness, que é estampado em local estratégico – deve estar a 45 graus, com o bico do tap dentro do copo, quase a ponto de tocar o conteúdo. Com o copo cheio na exata altura do logo (ou 2/3 do copo, que como é em formato de tulipa é difícil quantificar certamente), PARE! Espere, assista o movimento do líquido escuro e denso tomando forma. Quando todo o liquido estiver finalmente rubi, sem muito balanço volte o copo reto para o tap, abrindo-o na posição oposta (da mesma forma do colarinho das lagers). A Guinness então será servida com mais vida, o fundo do copo completamente homogêneo e rubi, seu meio em movimento e um perfeito dedo de colarinho. Era sempre minha melhor criação!

Hoje, vou frequentemente à pubs como o O’Malleys e sinto o desgosto de uma pint de Guinness mal tirada. E aprender a degusta-la foi outro grande passo. As mulheres britânicas tem o hábito de colocar Syrup Blackcurant na Guinness, deixando-a mais adocicada. É como um chopp com groselha. Eu também comecei assim, mas com o tempo me tornei uma apreciadora da bebida em sua forma real.

Entre coisas novas, nem tão novas ou apenas diferentes, tinha as cervejas com menta ou blackcurant, a Strongbow, uma draught cider, mais forte, servida no tap com as mesmas conveniências das lagers, e, um dos meus velhos hábitos, a Snake Pint, que era uma mistura de Lager, Strongbow e Blackcurant. Teor alcoólico alto, fazia muito sucesso nos bares australianos, como os Walkabout da vida... Aliás, era proibido servir Snake Pint se não houvesse licença para tal. No meu pub não podia.

E, claro, os zilhões de diferentes rótulos de cerveja de garrafa de todo o mundo, com destaque das cervejas do leste europeu, com muita saída, como Tyskie, Lech, Efes, etc. Além, claro, das muito vendidas Corona, com limão na boca da garrafa, San Miguel, Budweiser e Beck’s.

De volta ao Brasil, com um sentimento de nostalgia ao relembrar tudo que vivi nas terras frias da rainha e com realidades (financeira, climática, social e com a mente muito mais aberta) tão diferentes daquela época, com toda esta “carga” ficou impossível não dar continuidade na vida de bar. O gosto pela bebida, em especial pela cerveja, me levou à diversas questões, em especial da relação masculina alusiva à cerveja, e em quanto este ponto de vista é falho. Ver tantas mulheres, servi-las e ver suas conclusões abriu um mundo de indagações e sede. De cerveja e de conhecimento!

Foi um post longo, mas também dividir uma experiência tão intensa como essa não poderia ser tão breve.

Cheers!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Melograno

Visualize aquela tarde de verão onde o asfalto faz curva. O suor corre pelo corpo e tudo em que você consegue pensar é no suor de um copo de cerveja bem gelada.

Sem forças, você apenas se joga no sofá e espera que o poder Jedi traga o boteco para a sua sala. De repente o telefone toca. Não é o boteco avisando que está chegando, mas sim uma amiga com mais forças do que você que fala as palavras mágicas: vamos tomar cer-ve-ja?

Sem titubear você lembra da máxima da montanha movendo-se em direção a Maomé e com um grande sorriso nos lábios responde: onde e que horas?

Então, três mulheres entram em um bar. Na cabeça a vontade de aprender sobre cerveja, no corpo a vontade daquele primeiro copo de cerveja que desce como água gelada no deserto.

O bar foi escolhido justamente porque uma delas (sim Sheynita, essa é você) ouviu dizer que ali tinham vários tipos de cerveja diferentes. Mas para nossa surpresa, era muito mais que isso, descobrimos que não era apenas um bar com uma grande carta de cervejas, mas simplesmente o bar com a melhor carta de cervejas de São Paulo (Melograno).

Os olhos de Catarina e Renatinha brilharam, tanto quanto no dia em que pela primeira vez sentiram-se grandes e adultas o suficiente para tomar o seu primeiro copo de cerveja, mesmo sentindo que esse poderia ser o caminho para o lado negro da força.

Como crianças em loja de brinquedos, ficamos ali, tentando decorar o cardápio e tentando acertar qual a melhor relação custo benefício da casa.

Não adiantaria pedirmos uma cerveja muito cara, sendo que ainda não temos conhecimento o suficiente para apreciá-la adequadamente. Cerveja merece respeito, e para tal o melhor passo é admitir que ainda estamos engatinhando nesta arte.

E se é para engatinhar... ninguém sabe ao certo onde a cerveja surgiu, e para alguns historiadores é a bebida alcoolica mais antiga do mundo, com cerca de 8 mil anos.

A primeira cerveja que escolhemos foi a Krombacher Alemã, pilsner (muito calor, queríamos cervejas leves). Desceu muito bem, e deixou um leve amargor na boca. Foi muito bem recebida. Não tem um teor alcóolico alto (na realidade, foi o mais alto do dia: 4,8%) e tem baixa fermentação.

Depois de muito papo, pedimos a Tcheca 1795, uma premium lager desta vez. Bem cristalina com uma cor intensa (tão intensa que nossa Livinha - de 5 anos - inclusive sugeriu nos acompanhar e pediu um guaraná, dizendo que também estava bebendo cerveja!), mais saborosa, achamos o inverso da primeira, mais amarga no início e sabor residual agradável com um toque amargo bem sutil. Desceu bem, tão bem que, com o calor de cerca de 33ºC, acabou em menos de 20 minutos: estava apaixonantemente gelada.

Agora é a hora, a hora em que fomos conversar e pedir uma ajuda para escolher a cerveja. E ganhamos primeiro uma história muito bem contada, mas não imaginávamos onde essa história iria nos levar.

Escolhemos a cerveja Slava, da cervejaria Abadessa, que fica no Rio Grande do Sul (sim, ela é brasileira). E a história é que esta cerveja não é filtrada e além disso ela é feita com fermento fresco. Depois de produzida ela deve ser mantida gelada, inclusive no transporte. Caso esquente, ela estraga. Aliás, percebemos isso: se fica muito tempo parada no copo, a espuma já se torna mais espessa e seu gosto modifica.

Então, ela chega em um balde de gelo, numa garrafa sektflasche de tampa swing stopper, ela é aberta e servida. Tem um aspecto turvo e opaco, delicadamente aproximamos o nariz da fina e frágil taça onde é servida, e então uma onda de expectativas preencheu nossos pulmões, o sorriso foi inevitável e a ansiedade de experimentá-la nos fez dispensar o 3° brinde. Um sabor peculiar, a primeira cerveja aprovada já com o olhar, com um gosto residual levemente salgado na boca, o que sugere uma acompanhamento perfeito à carnes maturadas.

Foi aí... exatamente neste ponto... que uma mesa um tanto quanto descrente, onde podiam-se ouvir alguns resmungos e muitas dúvidas e aflições sobre a vida, transformou-se de repente na mesa mais animada do lugar. Onde o sorriso era fácil e dominava a crença de que coisas boas acontecem com pessoas boas. Simplesmente frases como: "nossa gente, a vida é linda" e "de repente parece que ouço Frank Sinatra" eram lançadas à mesa.

Em homenagem a Slava (sua menina linda!) fizemos diversos brindes. Fomos obrigadas a repetir o pedido na 4ª garrafa. E saímos de lá todas felizes e flutuantes. Deve ter sido culpa do fermento.

Este blog é culpa dela. Culpa da melhor cerveja que provamos até então. Ela é a estrela principal do nosso primeiro post, será o nosso parâmetro, o primeiro passo de nossa jornada em busca da cerveja perfeita.

Todas as cervejas serão rigorosamente testadas a partir de agora, e comparadas com a nossa atual eleita. Para isso a equipe se prepara, agendando visitas à fabricas de cerveja e lendo muito sobre o assunto, para que possamos ter conhecimentos a serem aplicados na prática.

O que ganhamos com isso? Oras, o prazer de degustar muitas cervejas diferentes, de aprender sobre uma paixão e principalmente a diversão e as surpresas que reservam qualquer jornada.

Keep Walking...