sexta-feira, 29 de julho de 2011

Entre delírios, flores e cervejas...

Era o que eu queria: fazer o que desse vontade... E deu vontade de ir para a Bélgica, assim... amanhã! E eu fui, de trem, curtindo a paisagem, entre sonecas e campos franceses, para passar dois inesquecíveis dias na terra da Deus, da Stella, da Leffe e de tantas outras cervejas aspirantes à perfeita.

Só que quando a gente faz as coisas sem planejamento, temos 50% de chance de dar certo. No caso, a visita à fábrica da Stella ficou nos outros 50%, porque precisava ser marcada com dois dias de antecedência. Mas como, se eu tinha decidido a viagem há menos de 12 horas?
Tudo bem, então eu decidi que tomaria uma Stella em cada bar da cidade. Leuven, mais especificamente, a 30km de Bruxelas, uma cidade de pessoas solícitas e clima com cara de eterna primavera (flores amarelas combinavam com meu Allstar viajante).

Minha visita à Bélgica tinha 3 grandes objetivos cervejeiros: a fábrica da Stella, o Museu da Cerveja e uma noite no Delirium Café. Este último o único concluído com sucesso, já que o Museu da Cerveja e meus horários de viagem não combinaram muito bem...

Justo eu, que nunca me imaginaria indo “pra balada” sozinha, coloquei meu salto alto, fiz minha maquiagem e fui, despida de qualquer medo ou pudor, direto para o balcão do bar. Lá me sentei, apreciando o som do local – era uma noite de Jam Sessions – e analisando o menu de cervejas como quem devora um livro de história. Por pura curiosidade, porque eu já sabia qual seria minha primeira pedida: a Delirium Tremens, que eu esperava ansiosa para poder prova-la “em casa”.

Foto Delirium Café
O Delirium Café, em Bruxelas, é famoso pela sua carta de cervejas, que em 2004 entrou para o Guinness Book como a maior carta de cervejas do mundo. Hoje tem franquias até mesmo aqui no Brasil, no Rio de Janeiro (única nas Américas) e ainda outras 5 unidades na Bélgica, Suécia, França, Japão e até numa ilhota por perto de Madagascar, no sul da África, chamada St. Pierre (juro que este é meu próximo objetivo de viagem). A matriz em Bruxelas está mais para uma vila de bares e pubs do que um bar em si. Com muitos ambientes, desde pista, palco, balcão, mesas nas áreas externas, lojas de souvenirs e cervejas, escadas e mais escadas, portas e mais portas. Vila esta de paralelepípedos muito bem decorada, com seu elefante rosa estampado em todos os lugares e um ar de anos 50 por todos os lados. Um lugar para passar o dia inteiro e ainda assim não conhecer tudo. Enfim, o melhor bar do mundo com o melhor garçom do mundo! Ele me deu um copo da Delirium e ainda me defendeu de um francês chato que não parava de me atazanar. Um brinde ao Marc!



Mas falemos da Delirium Tremens, cerveja que nomeia o bar e vem de nada menos que uma psicose causada pela abstinência ou suspensão do uso de drogas ou medicamentos, freqüentemente associada ao alcoolismo. Entre os sintomas são comuns, além das tremedeiras, confusões mentais onde alucinações táteis e visuais fazem com que os pacientes “vejam” insetos e animais asquerosos próximos ao corpo. Sim, você delira e vê um... elefante rosa! Nada mais cabível para nomear esta cerveja, uma Belgium Golden Strong Ale que tem um teor alcoólico de 9% - o que também explica o fato de eu ter ido sozinha e voltado com 6 novos amigos com direito a after party...

A Delirium Tremens é bem encorpada, com uma cor dourada incrível e um sabor frutado com uma finalização bem amarga, o que não compromete em nada seu sabor. Já pelo aroma pude perceber que aquela seria a cerveja que “subiria” rápido, portanto, apreciei devagar. Como esta veio do tap, não tinha rótulo ou garrafa para apreciar, mas – melhor ainda – uma revista com todas as cervejas existentes no Delirium Café fez as vezes para saber mais sobre ela: “Esta loira perfeita acentua as qualidades de um lúpulo excepcional e maltes de luz diferente. Oferece pontas afiadas de amargura em seu rosto e revela um casaco surpreendentemente maltada. Sua conclusão é combinado com um tom de amargo e picante, sem toque de agressividade. Ela representa a lager forte em sua melhor aparência. Ela foi coroada de cerveja campeã mundial em 1998.” Palavras da própria. Pra mim, uma excelente cerveja que abriu caminho para alguns outros rótulos, todos belgas (foi neste dia que fui tentada a provar a tal Floris de manga, a cerveja mais enjoativa da humanidade).

Enfim, serve como aviso: Delirium Tremens é uma condição potencialmente fatal, principalmente nos dias quentes e nos pacientes debilitados. Portanto, nada de abstinência!

Ah... O copo... ficou em outra balada na sequencia do Delirium Café. Onde os garçons não são tão legais...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Fruit de la passion

Fruit de la passion, ou fruto da paixão, sempre foi minha fruta preferida. Desde criancinha adorava come-la à colheradas. Curtindo seu sabor deliciosamente azedo. Afinal, maracujá bom é maracujá azedo.

Para quem não sabe, o maracujá é brasileiríssimo, e um belo dia, entre 1605 e 1621, a planta do maracujá com suas exuberantes flores, foi dada de presente ao Papa Paulo V. Ele se encantou tanto com o extraordinário presente, que mandou cultivá-la em Roma e divulgou que ela representava uma revelação divina. Devido à este fato, somado à beleza e característica de suas flores, relacionou-se a planta à "Paixão de Cristo", esta é a origem de seu gênero botânico "passio" e fica bem mais fácil saber porque os franceses o conhecem como fruit de la passion. Pois é, não tem relação com a paixão carnal, ardente, responsável por arritmias e borboletas no estômago.

Mas como eu dizia, o maracujá sempre foi minha fruta preferida e é aí que começa nossa história.

Na última quinta-feira, minha amiga Liane me apresentou ao café elétrico, que já era uma indicação de um outro amigo, o Péricles. Lugar muito bacana, para se sentir a vontade, tomar boas cervejas e ouvir música de qualidade.

Chegamos, nos instalamos e então o Aroldo veio nos atender. Ele, dono do café elétrico, conhecedor e amante de cervejas, foi a pessoa certa para nos indicar o que havia de mais novo e especial para provarmos, além de dicas e um longo e interessante papo.

Agora imagina o meu sorriso ao ouvir dele que já leu o blog. Me senti quase famosa... enfim...

A cerveja escolhida foi a Basement California Golden Ale. Parece um palavrão eu sei, então vou facilitar um pouquinho.

Foto: Café Eletrico Bar
Califórnia é um tipo de cerveja feita com o fermento para Lagers, mas fermentada em temperatura para Ales. Golden Ale, ou Belgian Blond Ale é uma Pale Ale mais dourada e encorpada, e por sua vez Pale Ale são as Ales claras, com graduação alcoólica até 6% e que possuem características suaves. Se parasse por aí já seria uma cerveja interessante, mas não pára. A Basement não tem tampa, tem rolha. Sim, rolha, como champagne. Isto porque, depois que ela é envasada, recebe mais fermento e então sofre uma refermentação dentro da garrafa.

Além disso é produzida com maltes alemães, lúpulos americanos e leveduras belgas.

Mas calma, ainda não cheguei na melhor parte.

Ela chegou à mesa, devidamente gelada. No copo ideal onde pude perceber sua cor, mais avermelhada do que as golden ales provadas até então. Sua espuma densa, mas não muito persistente e seu aroma suave, onde nota-se um leve caramelado. Então a provei.

Na hora eu entrei em um psicodélico túnel do tempo ao reconhecer um sabor muito familiar. Com ar incrédulo e a cabeça cheia de boas recordações, pensei comigo feliz "maracujá".

No minuto seguinte já me peguei pensando que estava imaginando coisas, sentindo sabores inexistentes. Será que já poderia confiar assim no meu paladar? Fazer o que? Mulheres teem momentos de insegurança.

Segundo gole, mais cítrico ainda, um pouco de mel e o amargor leve no final. Não podia acreditar, estava inventando coisas ou havia maracujá ou alguma fruta muito semelhante à ele naquela cerveja? Para acabar com as dúvidas: O Rótulo. Mais um detalhe? O rótulo tem uma mulher oferecendo uma caneca de cerveja.

Li e fiquei radiante: Rica em aromas de frutas amarelas, refrescante, com notas de mel, caramelo e um suave amargor. Possui maltes alemães, lúpulos americanos e leveduras belgas na sua composição. Cerveja artesanal refermentada na garrafa!

Há frutas amarelas! Chega de insegurança. Nada como um sabor tão familiar e adorado para nos dar mais confiança às nossas próprias percepções, não é mesmo?

Depois disso tomei o terceiro gole mais feliz da vida... e o quarto... o quinto... até o triste fim do copo.

Senti que a Basement California Golden Ale, produzida em Videira, Santa Catarina e lançada na última Brasil Brau, chegou mesmo é para arrasar corações. Mas também, contando com a ajuda da fruit de la passion o resultado não poderia ser diferente.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Catarina no país das maravilhas (Guinness Storehouse)

Voltando um pouquinho, logo no começo da nossa busca pela cerveja perfeita, a primeira providência tomada pela Catarina e Renatinha ao entrar no mundo cerveja foi a visita à fábrica da Baden Baden, em Campos do Jordão. Logo naquela época minha cabeça já sonhava em ir mais além, mais precisamente quilômetros além e conhecer enfim a fábrica de uma das meninas dos meus olhos: a fábrica da Guinness, em Dublin, Irlanda.

Uma viagem um tanto confusa mas que rendeu além de novos amigos, bons momentos e a tão esperada visita à Guinness Storehouse, que se saiu muito além de qualquer expectativa nutrida. Primeiro porque o local não é grande: é gigantesco. São sete andares  - o primeiro deles divididos em quatro pavimentos.

Primeiro vamos começar com um breve contexto da história da Guinness: Arthur Guinness, em 1759, iniciou sua produção de maneira inovadora, tanto que foi condenado por adicionar mais água que os padrões das cervejas Porters permitiam. Então, o xerife da cidade foi acionado para cortar o fornecimento de água da cervejaria, mas Arthur não permitiu, se colocando contra dizendo que defenderia sua produção com um exército se fosse necessário. Com o sucesso da receita de uma de suas Porters, Arthur decidiu que não fabricaria nenhuma outra receita senão a Guinness. Com a morte de Arthur em 1803, a cervejaria foi passada para seu filho, também Arthur, e já nesta época a fábrica da Guinness era a maior do mundo, na mesma localização de hoje, o St. James Gate, em Dublin, Irlanda. A paixão da família Guinness, que ainda está a frente da marca, depositada na produção da cerveja é chamada por eles de 5º ingrediente.


Logo na chegada, uma grande surpresa, uma parede gigantesca com TODOS os rótulos e edições da cerveja. Só ali devo ter ficado uns 20 minutos apreciando cada garrafa e, claro, tirando mil fotos. Um simpático guia inicia o tour de alguns chineses com uma breve explicação sobre a cerveja num ambiente que, através de jogos de luzes e imagens, parece que estamos dentro de um gigantesco copo de Guinness.



A seguir, os ingredientes nos são apresentados e minimamente explicados conforme o anúncio: “Para entender o que faz a Guinness tão especial, você tem que começar com os ingredientes crus. Água, cevada, lúpulo e levedura: quatro ingredientes naturais, cuidadosamente selecionados para garantir que eles são da mais alta qualidade. Cada ingrediente em si é especial, mas se misturados de acordo com a receita secreta, o resultado é simplesmente extraordinário.”

- Água:
Em qualquer lugar do mundo, a água da Guinness é a mesma, vinda de fontes irlandesas. Eles têm um programa chamado “Water of life”, e todas as moedas jogadas na fonte vão para este programa de tratamento.




- Cevada:
A Guinness é produzida com uma combinação de cevada maltada, não maltada e torrada.







- Lúpulo:
A Guinness tem mais lúpulo que qualquer outra cerveja, seja Ale ou Lager. É o que a torna tão diferente. O lúpulo é como uma planta trepadeira, com um aroma que pode ser verificado ao esfregar as planta com as mãos: é assim que a qualidade é testada. Como o lúpulo é uma espécie de conservante natural, a Guinness exige que o mesmo lote seja exportado para todas as fábricas da cerveja.


- Levedura:
É a levedura que transforma os nutrientes e açúcar da cevada em álcool. Também é produzida de acordo com os padrões criados por Arthur Guinness, apenas em um único local, o St. James Gate, e exportado. É tão valioso que existe uma reserva da levedura trancada dentro dos cofres da sala da diretoria da Guinness.



A seguir, nos é apresentado todo o processo de produção, maturação, estoque e distribuição, com informações detalhadas de cada um dos processos. Juro que tentei roubar a receita, mas fui pega e tive que deixar as anotações para trás...

Ainda, um jogo de perguntas para testar o conhecimento sobre a cerveja em geral e um andar exclusivo para a comunicação da marca – foi lá que o lado latente de publicitária da Catarina entrou em êxtase. Dezenas de anúncios, peças publicitárias e todos os filmes já criados pela Guinness desde o início da marca. SENSACIONAL!

Mas a melhor parte da visita (ou não, difícil definir) foi tirar minha própria pint! Há uma explicação detalhada do processo (que mencionei no meu primeiro post) e fui avaliada por um guia que se manteve ao meu lado o tempo todo. Ao finalizar, com honra, ganhei até um certificado! E pude sentar numa confortável poltrona e me deliciar com minha Guinness especialmente tirada por mim, cujo barril vinha direto da fábrica, há poucos metros de distância. Foi enfim a melhor Guinness que tomei na vida!


Para finalizar, um bar no último andar do edifício, que mais se parece um observatório em 360º da cidade de Dublin. Apreciar a paisagem cinza com uma Guinness na mão foi quase um grand-finale para o dia. Isso se não fosse a loja da Guinness no meu caminho de saída, onde deixei preciosos 65 euros em souvenirs: chaveiros, moletom, bolsas, bolachas, camisetas, uma caneca e até ganhei uma gota da cerveja armazenada dentro de um vidro. O lado consumista de Catarina também se realizou.


Saí da visita completamente exausta. Mas incrivelmente feliz. Foi um sonho realizado e mais um passo dado na compreensão e aprendizado do mundo das cervejas. Um dos muitos que virão pela frente.

Como foram muitas fotos e quero dividir este momento com todos, publiquei o álbum completo da visita aqui!

“There is a poetry in a pint of Guinness”.

Cheers!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Amigos, amigos, cervejas fazem parte!

(Post a 4 mãos)
 
São seis os amigos mais famosos do mundo. E são inúmeras as vezes que os vimos sentados diante de uma única protagonista: a cerveja.

Durante 10 anos – e pasmem, que acabaram há 7 anos – acompanhamos as piadas, tragi-comédias, amores, dores e neuras de 6 pessoas tão comuns quanto nós mesmos. Rachel, Monica, Phoebe, Ross, Chandler e Joey fizeram nossas noites mais agradáveis e hilárias. Seus quotes já são imortais, como o famoso “How you doing” de Joey, ou o “Could I be any...” de Chandler, isso claro, sem contar nos trejeitos e olhares de Ross. Tanto a dizer sobre eles, Catarina e Renatinha são fãs incondicionais do seriado. A ponto de saberem de cor as falas e detalhes de cada episódio. E vêem e revêem cada um deles como se fosse a primeira vez.

Mas uma coisa notada recentemente por Catarina, talvez pela nova paixão adicionada à sua lista: a cerveja favorita, principalmente de Joey: Budweiser.

Sem muito o que explicar, bud lembra parceiro, best bud, como ele mesmo chama seu amigo Chandler (ele deu até uma pulseira para ele, the woman repeller!)

Hoje, no dia do amigo, falamos da Budweiser americana, aquela lager que está sempre nas geladeiras nos filmes e seriados e que por algum tempo só nos fez vontade por aqui. Por algum tempo porque o Brasil está para ganhar uma nova amiga. Sim, a Budweiser será lançada em breve no Brasil.

A Budweiser foi a primeira cerveja nacionalmente americana. Seu nome na realidade é inspirado num tipo de cerveja de um lugar chamado Budweis, em uma região distante do Império Húngaro, e em 1883 começou a ser pasteurizada e engarrafada. Sim, nossa Bud era um másculo e rústico exemplar de chopp. O que alias combina e muito com seu público, homens trabalhadores, macacões, mãos sujas de graxa, trabalho pesado e jogos tradicionais. Nada mais americano, nada mais cinematográfico. Como imagem visual sempre foi o ponto alto da Budweiser – tanto o rótulo tipicamente americano com suas cores vermelho, branco e azul – com seu poder distintivo comparável ao da Coca-Cola; os slogans “O Rei das Cervejas” e “O Produto Genuíno” transformaram a marca na cerveja mais consumida do planeta, inclusive com campanhas que fizeram história (inclusive fazendo parte da nossa história!).

Em 2008 a Inbev comprou a Budweiser, tornando-se então a maior cervejaria do mundo. E já que a Bud será então fabricada e comercializada por aqui, nenhuma data melhor para comemorar a notícia da chegada de uma nova amiga do que no dia do amigo. Mas oficialmente sua primeira aparição acontecerá no Preliminary Draw, evento da Fifa que acontece no Rio de Janeiro na última semana desse mês. E estará no mercado até o mês de novembro (informações da Ambev). Na publicidade ela será representada por ninguém menos que Nisan Guanaes, ou melhor dizendo, pela Africa.

Enfim, uma cerveja para ser bebida entre amigos, após uma longa jornada de trabalho ou mesmo em frente à TV na companhia de 6 amigos inseparáveis que elevaram a amizade a um novo patamar.

O mundo e os amigos nunca mais foram os mesmos após Friends e talvez uma nova revolução aconteça após a Budweiser. Afinal, quando se trata de estômago ninguém entende mais que o Joey.

So... How YOU doing?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

De volta às origens

Uma singela e rápida sessão nostalgia. Você já parou para se questionar por que os rótulos dos palitos de dente Gina, palitos de fósforo Fiat Lux, sabonete Phebo (assim mesmo, sempre com ph), paçoquinha Amor, pomada Minancora, fermento Royal (a embalagem e o material dela mudou, mas o rótulo não), manteiga Aviação, palhas de aço Bom Bril e requeijão Catupiry nunca mudaram?

E por que a caneta Bic, os saleiros do sal Cisne e os copos americanos de botecos se mantêm iguais?

Além destes, o rótulo da cerveja Original também nunca mudou. Pensando em tudo isso, os publicitários responsáveis pela campanha da cerveja Original tiveram uma incrível sacada: As coisas boas não mudam.

Ou seja, partimos daquela máxima de que em time que está ganhando não se mexe.

Quando vi este cartaz, com todos estes rótulos famosos que desencadearam uma profunda e boa sensação nostálgica dentro de mim, não pude deixar passar despercebido. Então confesso, este post é mais para prestigiar o publicitário que criou a campanha do que propriamente falar de uma cerveja (publicitários e suas manias).

Sensacional. Pegar uma característica que poderia ser um ponto fraco, como um rótulo ultrapassado e transformá-la em um diferencial que intensifica a qualidade do produto.

Achei realmente incrível. Tão incrível que mesmo entre tantas opções de rótulos para escolher em um bar, fiz questão de pedir uma Original. Ao beber a Original tive mais sensações nostálgicas, do tempo em que comecei a dar os primeiros passos no mundo cervejeiro. Porque se a Bohemia foi a primeira a me dizer que havia diferenças entre as cervejas, a Original foi a que me fez perceber que não basta escolher uma cerveja entre as que o bar oferece, às vezes temos que escolher um bar pela cerveja que ele oferece.

Lembro de quando fui desafiada pela primeira vez a descrever o sabor de uma cerveja, de apontar quais suas nuances, características, aparência... Não me saí muito bem, mas serviu para me fazer perceber o quanto meu paladar precisava ser apurado. Foi a partir daí que entendi que por trás de cada gole há uma história e um longo processo.

A Original, sem dúvida, destoava das demais, e um bar que vendia Original já podia se considerar com uma boa carta de cervejas. Hoje em dia os bares precisam de muitas e muitas cervejas além da Original para serem considerados verdadeiros templos cervejeiros.
Essas pequenas lembranças me fizeram perceber o quanto esta arte evoluiu por aqui nos últimos anos. Fiquei feliz por participar e evoluir junto com essas mudanças e talvez por culpa delas.

Bebi um gole da cerveja pouco aromática, de amargor suave e que mesmo sendo muito parecida com todas as demais, ainda apresenta alguma personalidade marcante. Personalidade que não muda, assim como as coisas boas da vida. Assim como os rótulos das marcas já consagradas no mercado.

O que posso dizer é que mesmo não tendo mais um lugar de destaque, esta cerveja é capaz de trazer ao paladar deliciosas recordações. Daquele tempo onde tudo era novo, cada sabor era inédito, cada cerveja especial era mais que especial, simplesmente porque era original.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Rock’n’roll all night


(Post a 4 mãos)

Nas veias da Renatinha correm sangue, mas por ele a cerveja navega e o rock'n roll pula muito alto. Vamos combinar que se existe um casamento perfeito e sem crises é o da cerveja com o rock'n roll. E não, não nos venha com Restart, Fresno ou coisas do gênero, que podem até ter lá o seu valor (afinal gosto a gente não discute aqui), mas hoje é dia do rock de verdade, de AC/DC, The Doors, Led Zeppelin, Metallica, Iron Maiden e para não dizer que não falamos das flores, Janis Joplin entre tantos outros nomes igualmente importantes.

Para Catarina, o rock clássico, aquele que veio com Beatles, Elvis, passando por The Smiths e chegando aos dias de hoje com The Strokes, Kings of Leon, The Killers. É nesta hora que Catarina para tudo e coloca sua setlist de Pedra Letícia, que poucos conhecem mas ela defende com unhas e dentes. Vai ver é bom, vai saber... A Catarina é eclética (até demais pro gosto da Renatinha), comemora o dia do rock, o dia do sertanejo, o dia do samba, da música eletrônica em todas suas vertentes. Na realidade, a Catarina comemora.

Mas hoje é o Dia Mundial do Rock, então podem se liberar, perder qualquer tipo de pudor, pois é dia de suar muito, pular até cansar, perder a voz tentando acompanhar os agudos e nos momentos em que ninguém estiver olhando, até mesmo fazer aquela clássica performance com uma guitarra tão real quanto a Luana Piovani para o Selton Melo.

E claro, regar tudo isso com litros de cerveja. Então porque não escolher uma cerveja tão especial quanto as músicas que são comemoradas nesse dia? Já que estamos falando em rock'n roll que tal uma cerveja temática?

A Brew Dog IPA Punk. Cerveja inglesa hardcore.

Tudo bem, punk é punk, hardcore é hardcore. Mas se pensarmos bem, o hardcore vem do punk (como a stout vem da porter), mas é mais pesado, forte (como a stout em relação à porter). Além disso, é mais trabalhado, perde um pouco da filosofia do "faça você mesmo" essa sim punk até a alma. Nas palavras da Renatinha punk é o que amigos fazem no fundo da garagem para se divertir sem terem muita idéia do resultado que obterão. No hardcore, esses mesmos amigos apesar de fazerem um som muito semelhante, já sabem mais ao certo que bicho dá cada mistura de acordes.

E a Brew Dog é assim, uma experiente cervejaria que sabe muito bem o que quer de cada cerveja que produz. Neste caso, um rótulo moderno e um sabor... bem, é uma IPA ("Indian Pale Ale", um tipo de cerveja particularmente fermentada para exportar para os ex-patriados na época da Raj da Índia), ser amarga era no mínimo usual. Mas é mais, digamos, contemporânea. Pesquisando um pouco sobre a cerveja, descobrimos a proposta da Brew Dog: Inovar. Não há preservativos ou aditivos em suas cervejas e eles abusam de receitas excêntricas em seu repertório. Sem contar a criatividade para nomear as cervejas...

A Punk é contraditória: é amarga e frutada, delicada e agressiva. Uma cerveja clara, com aroma de kiwi, lichia e maracujá e ainda nuances de cereja e morango, além do toque do caramelo. Mas tem o grand-finale seco e amargo, que prevalecem e perduram. Assim como um solo de guitarra.

Ou seja, uma cerveja puro rock'n roll, companhia perfeita para ouvir as pedras rolarem...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Papo de boteco

Algumas histórias exercem um enorme fascínio sobre mim. Simplesmente porque conversam comigo de uma maneira que me leva para dentro de mim mesma (egocêntrica???? eu?????).

Assim foi quando li A Alma Imoral de Nilton Bonder. Um livro para ser digerido com calma, parando de tempos em tempos para amadurecer cada pensamento. No teatro não há este tempo, o que torna este monólogo verdadeiramente intenso, uma verdadeira explosão de sentimentos que me fez lacrimejar ao me enxergar tão claramente (livro e peça altamente recomendados).

Entre os temas abordados pelo autor, a transgressão é um dos mais importantes. A tradição vs a traição.

Enfim, porque comentar disto aqui? Você já vai entender.

Neste fim de semana em meio às conversas de boteco (assuntos assim só surgem mesmo em boteco depois de muitas cervejas, tenho verdadeira paixão por estas conversas) fiz um paralelo explicando as tradições e traições a partir da cerveja. Claramente de maneira livre e nada pretensiosa sem a menor intenção de convencer. Apenas uma brincadeira com conceitos.

Vamos lá, as regras determinam um jeito certo de se consumir cerveja. Um jeito certo de produzir, servir, girar a taça, sentir a cerveja de tal maneira a melhor aproveitá-la. Essa é a tradição, a moralidade que reveste cada gole. Que poda a inspiração e a criatividade.

Já as traições são as quebras dessas regras. Algo que acontece de um desejo momentâneo que nos leva a fazer tudo errado e achar que ficou ainda melhor. As traições é que nos levam a descobrirmos nosso jeito próprio de beber cerveja. Longe de certo e errado.

Para os mais puristas, as tradições são mais importantes que as traições. Mas eles se esquecem que são as traições que levaram e levam à descoberta de novas formas de se produzir e consumir a cerveja do dia a dia.

Algo que aprendemos logo que começamos a degustar cervejas é que seu armazenamento deve ser em pé, e nunca, jamais em hipótese alguma congelar. Congelar a cerveja acaba com ela. Estraga sua cor, o sabor fica aguado, a espuma perde textura... ou seja, fica simplesmente impossível de ser devidamente apreciada.

Receber uma cerveja congelada na mesa, portanto é motivo suficiente para reclamações e estresse com o garçom, além de uma dor profunda pelo desperdício de cerveja, certo?

Não exatamente, porque ao ver aqueles pequenos floquinhos de gelo caindo no copo meus olhos já começam a brilhar. Para mim é lindo ver o copo trifásico. Uma camada fina de floquinhos entre a espuma e a cerveja. Muitas boas recordações invadem minha mente. Me fazem reafirmar que cerveja não é só cerveja. Ela não se limita à muitas regras de produção e degustação. Cada copo tem uma história, cada copo traz em si uma sensação única que não pode ser simplificada em meros certos e errados de uma cartilha.

Agora chegamos à analise desta transgressão. Porque se as regras são as tradições e descumprí-las são as traições, precisamos apenas demonstrar como essa transgressão possui em sua essência aquilo que nos levará a um novo lugar e a ter uma nova visão sobre os fatos. Algo que amplie a nossa compreensão da situação e nos livre de preconceitos.

Então encontramos no meio do caminho a michelada mexicana (michelada, Michelle... Freud explica?). Os mexicanos tem um jeito muito peculiar de tomar cerveja. Colocam sal na borda do copo (como na margarita), dois dedos de suco de limão, cerveja e gelo. Sim, gelo.

Confesso que não sou muito fã de micheladas não. Acho que o gosto da cerveja fica tremendamente encoberto pelo sal e pelo limão, e sal e limão me remetem mesmo é à tequila e não à cerveja. Mas será que poderíamos condenar um jeito tão particular de saborear a cerveja em um dia escaldante?

Imagino agora os tradicionalistas contorcendo-se de ódio dessa transgressão às regras.

O importante, que fique claro, não é gostar do resultado obtido, mas libertar-se de preconceitos tolos e aprender que não existe apenas uma maneira correta de se fazer nada na vida. Nada melhor do que criar as próprias regras.

Concluindo. Cada um cada um, cada copo uma nova oportunidade de transgredir, ousar, descobrir-se e redescobrir-se...

Neste ponto da conversa, levanto meu copo trifásico e trincante e brindo sentindo-me absolvida por ser completamente apaixonada por cerveja em flocos. Por mais errado que isto possa parecer aos olhos dos outros...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Inverno pra ela é pleno verão!

Comigo promessa é dívida, e não cumprir me deixa com um péssimo sentimento de culpa. Sim, eu prometi manter os posts mesmo remotamente, mas cumpri apenas 75% do combinado...

Mas eu tenho um argumento irrefutável: na última sexta-feira, estava em Ibiza. Me recuperando da melhor festa que fui na vida, fazendo algo que somente Catarina faria numa praia europeia e, ainda, provando uma cerveja local. Estou perdoada?

Ibiza, assim como muitos outros lugares, deve estar na lista de “lugares a se visitar antes de casar” de toda pessoa que tenha como foco na vida qualquer expressão como “Enjoy!”, "Carpe Diem" ou afins. Em dado momento, dormindo deitada na areia, ao som de uma festa na praia, numa peculiar ressaca de uma festa anterior (são muitas festas), acordo com um grito que marcou a viagem: “Esto és Ibiza Babe!”, dizia um espanhol em êxtase correndo pela praia. Sim, Ibiza é simplesmente sensacional, das praias às pessoas, das festas à comida, da cor da água à... cerveja!

Sim, Catarina lagartixava em um confortável deck na praia de Salinas, ao sul da ilha, dormindo e curando a ressaca física e sentimental da noite anterior (ver David Guetta nos deixa com os sentimentos à flor da pele. Caso!) quando as companheiras resolveram caminhar pela praia. Caminhar? Não... Num momento único, introspectiva e pensando em quão boa era as oportunidades que tinha na vida, chega um dos fantásticos garçons “Ibizienses” – algo que só Ibiza pode oferecer: você fala com um garçom gato, sempre gato, cobrindo apenas 5% do corpo e os olhos dele não desviam dos seus – e pergunto, no meu espanhol um tanto quanto único: “Você tem alguma cerveja especial para me oferecer?”

Si, como no?
Eis que chega a Isleña, a cerveja nativa de Ibiza. Um prato cheio para quem gosta de sol, calor, cerveja gelada e design. A começar pela embalagem, uma garrafa de alumínio com todos os símbolos de um lugar de festa, praia, música e gente bonita em cores quentes. A garrafa veio imersa em um balde de gelo, combinando com os cerca de 35C de temperatura exterior. Na garrafa, vem escrito: “Isleña ha sido elaborada, entre otras, con cebada ibicenca y está ligeramente tostada, para darle un sabor suave y una frescura ideal para ser consumida mientras disfrutas del mejor sol, las mejores playas y la mejor fiesta del mundo. Bebe Isleña, disfruta Ibiza” (Isleña foi desenvolvida com, entre outras, cevada de Ibiza levemente tostada para dar um sabor e frescor ideal para ser consumida enquanto desfruta do melhor sol, das melhores praias e da melhor festa do mundo. Beba Isleña e desfrute de Ibiza).

E é no primeiro gole da cerveja mais gelada da Europa que eu concordo com a garrafa. Uma cerveja leve, MUITO parecida com nossas brasileiras companheiras de praia e sol. Mas é uma Ale, com um sabor predominante do lúpulo, e ainda assim sem o amargor típico de Ales. Produto fruto de uma união dos empresários de casas noturnas de Ibiza e no mercado desde 2009, a Isleña é produzida na Alemanha, visto que a ilha ainda não tem nenhuma cervejaria.  Espertos, recorrem aos especialistas!

Se é a melhor cerveja da vida, do mundo, da viagem? Não. Mas foi uma cerveja perfeita. Para aquele momento. Perfeita para fechar com chave de ouro uma viagem, esta sim, mais que perfeita!

Ibiza Babe!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Traições

Tudo bem, eu confesso. Sou uma traidora.

Que outro termo eu poderia utilizar para justificar o fato de que passei a semana inteira sem tomar nenhuma cerveja?

Isso mesmo, nessa última semana eu troquei o meu tão estimado e precioso líquido feito de malte, lúpulo e água por um outro líquido, aquele feito à partir da fermentação de uvas de diversas castas e que tem fama de ser meio metido a besta.

Pois é, troquei a humilde e companheira cerveja pelo elitista vinho.  E foi assim, me sentindo como uma traidora, que no fim do domingo corri até o mercado com o coração cheio de pesar e me ajoelhei na frente da prateleira das cervejas. Pedi perdão, enchi o carrinho e voltei para casa feliz.

Mas só senti a redenção chegar no primeiro gole da Erdinger Champ.

Acredito que seu nome remeta ao termo champenoise, já que assim como neste médoto, sua segunda fermentação acontece na garrafa. Viu? Vinho e cerveja tem suas diferenças, mas no fundo também possuem muitas coisas em comum.

Voltando, a Champ me emocionou logo de cara, porque ela possui aroma de pão, que é sem dúvida o meu preferido para uma cerveja. Não sei explicar o porquê, mas acho que é a sensação aconchegante que o cheiro de pão fresquinho provoca em mim. Enfim, o seu processo de fabricação é que gera este aroma tão marcante.

Mais do que isso, ela é a primeira cerveja de trigo produzida para ser bebida diretamente da garrafa, e sabe como é, né? A primeira a gente nunca esquece.

É o que eu falo, cada uma tem o seu estilo e o seu momento, esta sim é uma cerveja que pode ser entregue ao cliente no balcão apenas com aquele guardanapo enrolado para não gelar demais a mão e evitar acidentes.

O sabor é suave e seu teor alccólico é baixo, o que também não atrapalha a conversa mas ajuda a descontrair.

Já sei o que pensou. Perfeita pra balada. É mesmo, e a idéia da Erdinger é justo essa, uma cerveja de trigo para a balada.

Afinal, uma boa companhia também tem que estar disposta a encarar uma pista de dança, cair na noite e se misturar. Assim é a cerveja, assim é a Erdinger Champ. Mais do que aprovada e bem diferente do vinho, aquele lá, só em ambientes mais tranquilos, acompanhado de uma bela taça e de preferência de um belo e muito bem harmonizado prato.

Brincadeiras a parte, tudo tem o seu momento. E admito, algumas "traições" servem para nos fazer dar mais valor ao objeto traído.