segunda-feira, 30 de maio de 2011

Fetiches

Sendo Renatinha e Catarina duas publicitárias de formação, nada mais natural que de vez em quando apareça algum comentário sobre campanhas aqui no blog.

Sendo o blog sobre cervejas, nada mais natural que essas campanhas sejam sobre o nosso precioso líquido.

Sendo o blog ainda, um local onde falamos das percepções femininas sobre a cerveja como um contra ponto à visão masculina, nada melhor que esta campanha fale sobre homens e mulheres.

Tudo isso para falar sobre um anúncio da Heineken que eu adoro. Mas antes vou falar sobre a Heineken.

Confesso que apesar de reconhecer o seu valor, a Heineken não é uma das cervejas que está na minha lista de preferidas. Para ser bem sincera peço Heineken só em último caso, ou quando ela é a opção verde do St Patrick's day, para fazer uma graça.

É uma cerveja leve, amargor não muito marcante, clara, bom aroma, equilibrada. Mas toda vez que a tomo me lembro da célebre frase de Santo Arnaldo (um dos santos padroeiros dos cervejeiros) "Do suor do Homem e do amor de Deus veio a cerveja do mundo." No caso da Heineken sempre acho que sobrou suor e faltou amor. Mas enfim... O papo hoje é sobre campanhas publicitárias.

E nesse quesito a Heineken manda muito bem.

Não sei dizer exatamente de quando é este vídeo, eu o conheci no ano passado e fiquei simplesmente fascinada com a simplicidade com que aborda as diferenças de fetiches masculinos e femininos, de maneira criativa e nada ofensiva.

Imagine um casal que acabou de arrumar seu futuro lar, pensando em todos os detalhes. Esse casal, vai apresentar a casa para seus amigos. Clube da Luluzinha de um lado, clube do Bolinha do outro.

As mulheres caminham para o quarto e a anfitriã abre um closet gigante e bem iluminado, abarrotado de sapatos, acessórios e claro, muitas roupas. A realização do sonho de qualquer mulher que já se identificou em qualquer grau com Carrie Bradshaw.

A reação espontânea é uma histeria coletiva. Pura euforia interropida por uma espontânea histeria coletiva provocada pelos gritos masculinos vindos do outro lado da casa.

Então vimos os homens dentro de uma gigante e bem iluminada geladeira, abarrotada de cervejas.

Que homens tem verdadeira paixão por cerveja nunca negamos. Que mulheres tem real fetiche por sapatos também não somos nós que iremos contrariar.

Mas se Renatinha e Catarina (assim como tantas outras mulheres que conhecemos) participassem desse comercial, com certeza reforçariam o coro histérico tanto no closet quanto na geladeira.

Sem dúvida é uma campanha das mais bem trabalhadas, e me levou a pensar que melhor mesmo é compartilhar fetiches. Assim as possibilidades de que se concretizem aumentam muito. Porque duvido que ele teria conseguido essa geladeira, do jeitinho que idealizou, sem o aval da ilustríssima esposa.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Cerveja mais que gelada!

Escrever sobre cerveja nos dá certa notoriedade entre os amigos. Não porque somos boas nisso,  até porque este é um caminho longo a se percorrer. Mas porque renovamos o assunto.

Tenho alguns amigos que sempre me sugerem rótulos, dão suas opiniões e sempre escrevem  - seja no blog, Facebook ou email – pra contar essa ou outra experiência. Mas há algumas semanas uma amiga disse que PRECISAVA que eu fosse almoçar com ela. Algum problema, coração partido ou dinheiro emprestado? Não, é que no restaurante que ela almoça tinha um sorvete que eu precisava experimentar. Sabor CERVEJA!

Eu, conhecida nas “rodas sociais” como arroz de festa, aquela que não nega nem aniversário de tia-avó, peguei uma sexta-feira mais livre onde poderia tirar bem mais que minha usual 1 hora (e meia) de almoço e fui.

Juro que imaginei um restaurante bacaninha, mesinhas confortáveis, quem sabe um jardim de inverno e decoração amigável. Não. Era um restaurante por quilo, que tinha pizza, churrasco e até arriscava alguns sushis de arroz tio joão. Coisa simples, restaurante para almoçar rapidamente de segunda à quinta (eu tenho a cultura do almoço feliz da sexta,  sempre).

O sorvete em questão, que veio na sobremesa mais que esperada, é da marca Lambuzzy, e tem as versões não só de cerveja (Icebeer), mas de Amarula, Caipirinha e Vermute. Todos eles têm teor alcoólico e venda restrita para maiores de 18 anos, tal qual as bebidas que os nomeiam.

O Lambuzzy Icebeer, por sua vez, tem 2% de teor alcoólico claramente escrito na embalagem (de 1 bola). É um “sorbet”, receita onde não há leite mas a cremosidade do gelado é a mesma.  Evitando a expectativa, achando que ia ser só mais alguma “novidade” atrasada – afinal, o inverno tá aí – juro que me surpreendi! O aroma é bem discreto, tanto que demorei pra identificar, e o amargor característico da cerveja só é sentido bem depois, talvez pela temperatura. A sensação é de tomar espuma de cerveja, mas tem um gosto adocicado muito bom.

Eu diria que é um sorvete Pilsen, porque achei que a coloração lembra muito a das nossas cervejas mais tradicionais. É BEM refrescante, digno de tardes de sol a pino. O custo vale muito, mais barato que Melona! R$4 o potinho de 1 bola.

Agora resta saber se essa novidade pega e se sobrevive até o próximo verão. Veremos!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Cerveja e futebol

Depois de uma semana, já consigo falar do clássico na Final do Campeonato Paulista.

Corinthians vs Santos.

Quatro mulheres em uma mesa de bar. Duas delas (as que vos escrevem) fazem parte de um bando de loucos e estavam devidamente concentradas. Cerveja Weltenburger Kloster Barock Dunkel na mesa e começa o jogo.

Garçom em campo, abre a garrafa, passa para as mulheres, elas dominam, colocam a cerveja calmamente a 90º no copo até o meio de campo. Fazem o giro, aproximam, percebem o aroma, completam o copo e vai... vai... vai... é copo cheio e cerveja aprovada.

Que felicidade, essa cerveja é a alegria da cidade.

A Weltenburger Dunkel é uma alemã escura das mais antigas do mundo, segue a arte monástica do preparo e fermentação. Sua coloração é marrom avermelhada bastante brilhante, a espuma não é muito encorpada e seu aroma... bom, para mim lembrou muito o aroma do pão preto australiano feito com melado (pela mistura óbvia de melado e fermento). Já para Catarina a associação não foi tão óbvia assim. Apreciadora da culinária oriental, sua primeira impressão lhe remeteu ao temaki.

Enfim, percepções são como gostos, religião e futebol, cada um tem a sua e não se discute.

Voltando a Weltenburger. Ela é bastante equilibrada, o melado, o tostado e o amargor são suaves. Percebe-se também que há pouco lúpulo em sua composição. Extremamente agradável de se tomar, ainda mais em uma tarde chuvosa de domingo.

Aliás, tarde chuvosa não, tarde de grandes tempestades, isso sim, e muitos conflitos. Um segundo gol frustrante do adversário, a fé da nação corintiana renovada na sequência e pouco tempo depois apita o árbitro e a consquista do campeonato é adiada por um longo ano. Haja coração para estas sofredoras.

Ainda bem que tínhamos uma reconfortante cerveja caramelada para nos consolar.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Não adianta vir com guaraná pra mim!

Dia desses eu li que lady que é lady não precisa repetir isso o tempo todo. Fato. E acho que isso cabe para a Divina: cerveja boa não se intitula como boa, simplesmente é.

Como para bom "bebedor", meia palavra basta, percebam que a Divina ficou MUITO aquém das minhas expectativas. Acho até que é a primeira vez que faço um post onde não me encanto com a cerveja... vou explicar melhor.

Ao buscar uma cerveja – mentira, ao procurar uma fruitbeer gostosa, já que a ansiedade da minha viagem ao encantador continente das cervejas aumenta minha vontade daquela fruitbeer belga – na Tortula (padaria/empório em São Paulo que dá dó ao ver como se degrada dia após dia), me deparei com a “Göttlich Divina!”, assim mesmo, com exclamação e tudo.

Cerveja com Guaraná. Um rótulo que não sei porque me lembrou tubaína, uma mistura que me deixou bem curiosa e um preço bem interessante, visto os preços dos outros escassos rótulos da Tortula: R$19,90 a garrafa de 600ml. Levei-a acompanhada de um pacote de salgadinhos e mini-bolos confeitados... sei lá, era um sábado de culto à infância talvez. Mas o momento infância logo passou e a Divina! acabou sendo degustada dias depois, na companhia de um gato, no sentido literal apenas da palavra.

A Divina! é obra de um brasileiro, o Mestre Cervejeiro Leonardo Botto, que utiliza guaraná da Amazônia na sua composição.  Cerveja brasileira, da cervejaria Opa Bier, é produzida com o artesanal processo de Dry Hopping, onde ao final da produção, a cerveja é guiada por pressão através de um recipiente completo com Lúpulos de Aroma. O resultado é uma cerveja muito aromática, sem perder suas características originais de sabor, coloração e espuma. Fato verificado, a Divina! é intensamente dourada, com uma espuma bem persistente e um aroma floral, com apenas um levíssimo toque do guaraná. Sabor intenso, uma Pilsen Super Premium com seu tradicional sabor presente de malte, dando aquele amargor do fim do gole. Refrescante sim, mas não teve aquele clímax que eu tanto esperava.

Enfim, a cerveja é boa sim, mas naquele momento eu esperava algo além de bom. Queria algo de fato divino, perfeito, que me fizesse novamente cantar. Não precisava ser Frank Sinatra, alguns versos de Paul McCartney seriam suficientes, mas essa já é outra história...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tonta de espanto, amor e cauim

Mais do que ninguém, as mulheres sabem que a tudo sempre pode ser dado um toque especial. Seja deixando um perfume no ar ou um retoque no último dia do prazo de entrega de algum trabalho. Tudo pode ficar melhor quando há um aroma no ar, ou detalhes que deixam claro que o trabalho foi cuidadosamente pensado.

Enfim... as cervejas também são assim. Aqui no blog vivemos falando dessas cervejas especiais que na gastronomia doméstica eu compararia aos almoços de domingo. Mas hoje quero falar de uma cerveja que eu prefiro comparar a um jantar de quarta-feira. O dia em que temos menos tempo para elaborar um cardápio, mas que é justamente o que pede um toque especial para quebrar a semana e deixá-la mais leve.

Aquele dia de colocar salsinha no arroz só para dar uma cor, ou permitir-se atacar a sobremesa (de preferência de pijama e largada no sofá). Sim, porque nesse dia tudo o que quero é relaxar para me preparar para o fim-de-semana, que muitas vezes já começa na quinta, mas sem deixar de aproveitar o que a noite de quarta tem a oferecer. Ou seja, não é um dia de experimentar coisas novas, é dia de dar valor à casa e às nossas raízes no terreno em que nos sentimos mais confortáveis, mas ao mesmo tempo fugir do lugar comum.

Difícil de entender? Não para a Colorado Cauim. Pois apesar de ser a tradicional Pilsen do dia a dia ela tem um toque especial com um apelo bem raíz (desculpe a infâmia), à sua composição é acrescida mandioca.

Isso mesmo, fécula de mandioca para ser mais exata. Sua cor, não é cristalina como as pilsens costumam ser, é meio turva, lembrando a coloração de uma cerveja weiss até, mas sua espuma é bem branquinha e nada densa. Já foi eleita como a segunda melhor cerveja pilsen do país em 2008 (aposto que se essa eleição ocorresse na quarta-feira não teria para ninguém, era Colorado Cauim na cabeça). Sabor leve, refrescante, amargor suave.

Não é propriamente uma cerveja exótica, é uma cerveja tradicional, uma pilsen simplesmente, mas com aquele toque que deixa claro que nenhuma cerveja da Colorado é só uma cerveja. Ela é pensada e produzida com cuidado e zelo. Com o devido respeito que o néctar produzido com água, malte e lúpulo merece.

Até seu nome foi cuidadosamente pensado. Cauim é o nome de uma bebida alcóolica produzida pelos índios Tupinambás, mas consumida por várias tribos brasileiras da costa central. Era produzida adivinhem a partir do que? Claro, de mandioca. Mas dependendo da época do ano também podia ser produzida a partir do milho e frutas silvestres diversas.

Os índios produziam essa bebida fervendo a mandioca até que ela derretesse. As mulheres virgens da tribo (de preferência as mais bonitas) reuniam-se ao redor do recipiente onde o cauim era produzido, mastigavam a mandioca e depois cuspiam de volta para o recipiente. Parece que essa etapa do processo era o toque indígena ao cauim. Os portugueses quando chegaram ao Brasil tentaram produzí-lo, mas pulando essa etapa, que vamos combinar, não é lá das mais agradáveis nem de se pensar. Resultado, o cauim dos portugueses foi um verdadeiro fracasso. Isso acontece porque as enzimas da saliva atuam sobre as fibras e as transfomam em açúcares fermentados.

Ainda bem que a Colorado usou o cauim como inspiração para o nome e não para o processo de fabricação. Ufa!

De qualquer forma em uma coisa as cervejas de hoje ainda lembram em muito o cauim, independente de terem fécula de mandioca ou saliva em sua composição. Essa similaridade está no fato de que ambos nos deixam meio "tontos" como descreve a música de Ednardo " ...tonto de espanto, de amor e cauim, sou nau sem rumo em teu ardor imenso...".

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sexta-feira 13 de mulheres, superstições e cervejas

Porque mulher não perde oportunidades. Nem esquece datas.

A Sexta-feira 13 não deve passar em branco. Um dia especial, em diversas culturas, com mitos, histórias e lendas das mais diversas e mais sombrias.

O cinema e a música se apropriaram da má fama da data. Esta superstição pode ter tido origem no dia 13 de Outubro de 1307, sexta-feira, quando a Ordem dos Templários foi declarada ilegal pelo rei Filipe IV de França; os seus membros foram presos simultaneamente em todo o país e alguns torturados e, mais tarde, executados por heresia.

Mas antes disso, antes da sexta-feira, o dia 13 é o feminino latente. Na Wicca, o dia 13 é o coração do mês, dia este em que devemos manifestar o que sentimos pelas pessoas. Quanto mais amor distribuído, mais amor retornado, seguindo a  regra do retorno triplo: tudo o que você oferece tem de volta para si reforçado 3 vezes, para o bem ou para o mal. E, ainda caminhando na magia do feminino, sexta-feira é dia de Vênus, deusa que  promove o amor, o prazer, a arte, a música e as parcerias.

Sendo sexta e sendo 13, é hoje o dia perfeito para mulheres saírem em busca do amor perfeito, do encontro perfeito, e claro, da cerveja perfeita.

E se o assunto é tradição e superstição, não podemos deixar que nada atrapalhe nosso caminho de busca do amor... digo, da cerveja perfeita. Muito se diz a respeito dos brindes, não só entre cervejas, mas com qualquer bebida. Os mais jovens têm a clássica “beber sem brindar sete anos sem transar”. Há quem não acredite, mas quem arrisca? O britânico brinda ao som do “cheers”, e sempre deve-se olhar nos olhos enquanto se brinda. E na ameaça de intoxicação está uma das hipóteses sobre a origem da exclamação "saúde!", que acompanha os brindes: na Grécia antiga, isso poderia ser uma promessa de que a bebida estava boa. Ainda, não se brinda cerveja com guaraná. No brinde do alcoólico com o não alcoólico, o desejo que fizermos na hora do brinde serão trocados. Mas a superstição mais interessante - eu diria -  é a que não se deve beber do copo do outro, sob risco de roubar os segredos alheios. Encaro isso não como superstição, mas como tática. E, de acordo com divagações da Renatinha, se pudéssemos acrescentar alguma nova tradição, seria a de nunca deixar cerveja esquentando no copo: "se a cerveja no copo esquentar, 7 anos sem beijar".

Eu, Catarina com a feminilidade à flor da pele, com um pentagrama wicca tatuado na nuca, romântica por natureza e sempre apaixonada, não vou perder a oportunidade de manifestar meu amor e nem deixar de brindar tradicionalmente com uma de minhas cervejas favoritas, que pode ser uma Slava, uma Guinness, ou até mesmo uma boa e velha Quilmes. Isso fica a cargo da companhia!

Esse é meu plano para a sexta-feira 13. Quais são os seus?

quarta-feira, 11 de maio de 2011

E pra não dizer que não falei... dos homens.

“Uma mulher levou-me a começar a beber e eu nem tive a decência de lhe agradecer.” –  W.C. Fields

Complementando o tema da Renatinha na última semana, que falava sobre a relação das cerveja com as mulheres, hoje cá estou para falar de homens. E, claro, de cerveja. E de relações recentes de amor e – acho – apego.
Assim como as mulheres estão ligadas à produção da cerveja, homens são os mais exímios apreciadores. Mas, diferentes de nós mulheres, veem a cerveja com os olhos racionais, apreciam não somente seus atributos “psicológicos”, mas querem saber mais que qualquer um: o ABV, o creme/espuma, a cor, o amargor, que quanto maior, mais macho os tornam – e não? Contemos mulheres e homens que realmente apreciam Dry Stouts então...

Como diria Tim Russman em umas das mais famosas citações sobre cerveja, “Uma cerveja cheia é uma cerveja perfeita.” Isso prova a simplicidade com que homens veem a bebida. De forma simplista, técnica por vezes, mas nunca com a profundidade e complexidade da análise feminina. Considerar perfeita por estar cheia? Discordamos. O homem esquece que, sempre, sua cerveja, seja ela a Pilsen de todas as horas, a de confraria, a especial, nacional ou importada, está sempre ligada à um momento de prazer. Futebol pede cerveja. Reunião com os amigos pede cerveja. Sol e calor pedem cerveja. Gelada. Para o homem, o estalar do anel da latinha traz todo um sentimento de realização, calmaria, prazer. Os primeiros goles de sua cerveja favorita desaceleram o mundo, apagam maus momentos e péssimas lembranças por quanto tempo for preciso.

E, claro, não podemos deixar de admitir – característica clássica feminina, em assumir limitações e impor virtudes – que o homem tem seu papel indiscutível no universo da cerveja.  Tanto que a história nos ensina que o homem se tornou agricultor (e sedentário) para beber cerveja e se embriagar, e não para garantir alimentação. Deixaram as caçadas e deram mais atenção aos grãos e plantas. Quer dizer... isso pode ser só mais uma das lendas sobre cerveja, vai saber.
O fato é que toda mulher que bebe com homem, dirige com homem e cozinha com homem, os fazem muito melhor. Ou porque somos ótimas aprendizes – que geralmente em pouco tempo se tornam mestres – ou porque o gosto da concorrência nos embriaga.

E se estamos falando de homens, que tal falar de uma cerveja com nome de homem? A Anderson Valley Oatmeal Stout, uma cerveja artesanal americana, a primeira no estilo Oatmeal Stout vendida no Brasil, cujos maltes são de aveia. Sim, mais uma Stout nas nossas resenhas (eu me descobri fã incondicional de Stouts ultimamente).
É uma das stouts mais encorpadas, ricas e complexas do mercado. Em 1990, foi a primeira medalha de ouro da cervejaria, no Great American Beer Festival. A Barney Flats foi julgada tão superior às outras stouts do mercado que nenhuma outra medalha foi sequer concedida nessa categoria. Inclusive, foi citada no livro “As 50 Melhores Cervejas do Mundo”. Deu vontade?
Pois a Anderson Valley veio numa oportunidade e foi degustada com homens de porte: Num evento corporativo recente, foi dividida com ninguém menos que os sócios da empresa que trabalho. O que foi ótimo porque não precisei pagar os R$39 pela garrafa de 750ml, ou seja, patrocinada! Jantar finalizado, era meu momento de espairecer depois de mais um evento de sucesso. E este momento foi curtido com uma cerveja de espuma escura, densa e persistente. Um aroma característico de Stout, adocicado de malte torrado, caminhando para o peculiar chocolate e caramelo. Mas a Anderson tem o quê de ervas, um toque defumado e um amargor não tão forte. Das Stouts provadas, foi de longe a mais densa e encorpada, tudo culpa da aveia. De acordo com minhas considerações femininas, os homens presentes também a aprovaram e inclusive abriram uma segunda garrafa.

É... e de homem a cerveja, de cerveja a Stout e de Stout à nossas relações de amor com os homens e cervejas. Tudo funcionando perfeitamente na engrenagem do universo...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Evolução

Às vezes há sinais claros de que somos seres em evolução. Nesse fim de semana do Dia das Mães, me dei conta disto analisando como os churrascos dos quais participo evoluíram.

Lembro de quando criança ver aquela churrasqueira pequena de ferro no quintal da casa de meu avô, comandada por meus tios que ou queimavam a carne ou a deixavam crua demais e regado por muitos refrigerantes. O cardápio era em sua maioria espetinhos de carne, frango e coraçõezinhos de galinha e havia muitos acompanhamentos  (maionese, vinagrete, farofa, saladas, arroz...).

Depois foram os churrascos no clube durante a pré-adolescência. Onde tudo era levado em isopores e nem os refrigerantes conseguiam ficar gelados o suficiente, imagino as cervejas. As carnes? Bom, nem um pingo de gordura, secas e meio esturricadas. Muitos bifes de contra-filé, linguiça e pães. Ainda bem que havia pão e muitos acompanhamentos, lembro que até tortas de liquidificador faziam parte do cardápio destes churrascos e a melhor parte para mim era a hora da sobremesa.

Mas então chegamos à adolescência onde os churrascos eram uma desculpa para beber muita cerveja com os amigos. A cerveja passa enfim a ser mais importante do que a carne. Ir em galera para o mercado e lotar o carrinho com muitos engradados da cerveja mais barata e quente que encontrássemos. Os garotos fazendo ares de entendidos ao fingir que sabiam o que faziam ao escolher a carne. Muitos espetinhos e apenas uma peça de picanha que seria sufiente no máximo, para metade dos convidados.

Nada de acompanhamentos, apenas pão. E claro que a cerveja nunca tinha tempo de gelar, era consumida quase que imediatamente à chegada no local do churrasco que passa a ser conhecido intimamente como churras. Definitivamente, só iríamos nos preocupar com a cerveja quente e ruim quando acordássemos com muita dor de cabeça e então faríamos a clássica promessa de nunca mais beber na vida, pelo menos até o próximo churras...

Mas a gente cresce, evolui, aprende. Aprende a fazer churrasco e a beber, e assim não há mais razão para falsas promessas. 

O churrasco de ontem, em homenagem às mães presentes (mãe, te amo) tinha no cardápio: picanha suína, picanha de cordeiro, e costela no vapor. Todas as carnes compradas em um açougue de confiança e previamente marinadas. Salada, e alguns molhos para a carne. E claro regado à muita Norteña gelada.

Chega de cerveja ruim e quente e de carnes mal preparadas.

A Norteña é uma american lager uruguaia que possui uma das melhores relações custo benefício, em minha opinião, além de ser facilmente encontrada.

Leve, refrescante e de amargor suave, combina perfeitamente com churrascos onde você quer aproveitar os sabores na companhia de pessoas queridas.

Em seu rótulo a Norteña declara representar o "Orgullo de nuestra gente, esta noble cerveza es elaborada en base a las más selectas cebadas del litoral".

Para mim, a Norteña ontem representou o orgulho de evoluir. Saber que podemos melhorar a cada dia. A começar pela qualidade da cerveja que consumimos nos momentos especiais.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cor-de-Rosa Choque

Hoje, não vou falar de uma cerveja especial, mas de uma relação especial.

A relação mulheres e cerveja, que não é nada nova. Sinto muito Catarina, mas não. Não estamos inovando com essa história. As mulheres estão intimamente ligadas à descoberta da cerveja e sua produção.

Sim, descoberta. Não há registros precisos, mas há suspeitas de que a cerveja nunca foi inventada, apenas descoberta e aprimorada.

Diz a lenda que há aproximadamente dez mil anos, alguém (provavelmente uma mulher) estava fazendo pão e deixou a massa descansando ao ar livre, foi então que veio a chuva e molhou essa massa que estava fermentando. Algum corajoso(a) resolveu experimentar esse caldo que se formou da mistura da água da chuva, massa de grãos e fermento e assim nasceu a cerveja.

Justamente por causa desta origem a cerveja era conhecida como "pão líquido". Produzida pelas mulheres e consumida em todos os lares inclusive por crianças. Juravam que a cerveja garantia o crescimento forte e saudável e que era tão fundamental quanto o pão na dieta de quaquer pessoa, independente de gênero ou idade.

Muitos anos depois, uma mulher na Alemanha, a beata Hildegard von Bingen 1179, abadessa beneditina, erudita e visionária, deu a primeira contribuição científica e técnica à produção de cerveja ao acrescentar o lúpulo na receita. No tratado Physica Sacra, ela afirmava: O lúpulo detém o apodrecimento e dá mais durabilidade à cerveja.

E é justamente o lúpulo, incorporado à fabricação que garante o sabor amargo tão característico deste precioso néctar e faz algumas pessoas, erroneamente, acharem que lhe confere um ar masculino. Nada disso, mais uma vez foi obra do toque feminino.

Ou seja, a relação das mulheres com a cerveja exite há milhares de anos. Por isso não provoque.
Ninkasi
Deusa da cerveja

Mais do que isso. Muitos podem ser os padroeiros da cerveja, mas divinamente a cerveja é representada por uma deusa. A deusa sumeriana Ninkasi, uma das oito crianças criadas para curar uma das oito feridas que Enki recebeu por comer as ervas criadas por Ninhursag para Tornar o paraíso mais bonito. Ela nasceu da “água fresca cintilante” e foi feita para “saciar o desejo” e “satisfazer o coração”.

Inclusive, entre as tábuas deixadas pelos Sumérios que descreviam o nascimento de Ninkasi e toda a religião oriunda do planeta Nibiru, foi encontrado um poema à deusa Ninkasi que nada mais era do que a primeira receita de cerveja conhecida.

Em 1989 a Cervejaria Anchor produziu em edição limitada, feita de acordo com essa receita a partir do bappir (termo sumério para descrever um pão feito com cevada maltada e farinha de cevada), água, malte, mel e tâmaras. Nada de lúpulo ou outro ingrediente amargo, o que dá um sabor consideravelmente mais doce do que o das cervejas modernas (para os cervejeiros artesanais de plantão que quiserem arriscar a preparar a cerveja Ninkasi, segue o poema no fim do texto).

De agora em diante, as mulheres farão um brinde a Ninkasi ao experimentar cada nova cerveja e assim, certamente, poderemos contar com sua benção nessa eterna busca pela cerveja perfeita.

Louvor à Ninkasi

Nascida da água corrente (…)
Delicadamente cuidada por Ninhursag
Nascida da água corrente (…)
Delicadamente cuidada por Ninhursag


Tendo fundado sua cidade pelo lago sagrado,
Ela rematou-a com grandes muralhas por você,
Ninkasi, fundando sua cidade pelo lago sagrado,
Ela rematou-a com grandes muralhas por você.


Seu pai é Enki, Senhor Nidimmud,
Sua mãe é Ninti, a rainha do lago sagrado,
Ninkasi, seu pai é Enki, Senhor Nidimmud,
Sua mãe é Ninti, a rainha do lago sagrado.


Você é a única que maneja a massa,
com uma grande pá,
Misturando em uma cova o bappir com ervas aromáticas doces,
Ninkasi, você é a única que maneja
a massa com uma grande pá,


Misturando em uma cova o bappir com tâmaras ou mel.
Você é a única que assa o bappir
no grande forno,
Coloca em ordem as pilhas de sementes descascadas,
Ninkasi, Você é a única que assa
o bappir no grande forno,

Coloca em ordem as pilhas de sementes descascadas.

Você é a única que rega o malte
jogado pelo chão,
Os cães fidalgos mantém distância, até mesmo os soberanos,
Ninkasi, você é a única que rega o malte
jogado pelo chão,

Os cães fidalgos mantém distância, até mesmo os soberanos.

Você é a única que embebe o malte em um cântaro
As ondas surgem, as ondas caem.
Ninkasi, você é a única que embebe
o malte em um cântaro
As ondas surgem, as ondas caem.


Você é a única que estica a pasta
assada em largas esteiras de palha,

A frialdade dominou.
Ninkasi, Você é a única que estica
a pasta assada em largas esteiras de palha,
A frialdade dominou.


Você é a única que segura com ambas as mãos
o magnífico e doce sumo,
Fermentando-o com mel e vinho
(Você, o doce sumo para o eleito)
Ninkasi, (…)
(Você, o doce sumo para o eleito).


O barril filtrador, que faz
um som agradável,
Você ocupa apropriadamente o topo
de um grande barril coletor.
Ninkasi, o barril filtrador,
que faz um som agradável,
Você ocupa apropriadamente o topo
de um grande barril coletor.


Quando você despeja a cerveja filtrada
do barril coletor,
é como os barulhos dos cursos
do Tigris e do Euphrates.
Ninkasi, você é a única que despeja
a cerveja filtrada do barril coletor,
é como os barulhos dos cursos
do Tigris e do Euphrates.