segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tonta de espanto, amor e cauim

Mais do que ninguém, as mulheres sabem que a tudo sempre pode ser dado um toque especial. Seja deixando um perfume no ar ou um retoque no último dia do prazo de entrega de algum trabalho. Tudo pode ficar melhor quando há um aroma no ar, ou detalhes que deixam claro que o trabalho foi cuidadosamente pensado.

Enfim... as cervejas também são assim. Aqui no blog vivemos falando dessas cervejas especiais que na gastronomia doméstica eu compararia aos almoços de domingo. Mas hoje quero falar de uma cerveja que eu prefiro comparar a um jantar de quarta-feira. O dia em que temos menos tempo para elaborar um cardápio, mas que é justamente o que pede um toque especial para quebrar a semana e deixá-la mais leve.

Aquele dia de colocar salsinha no arroz só para dar uma cor, ou permitir-se atacar a sobremesa (de preferência de pijama e largada no sofá). Sim, porque nesse dia tudo o que quero é relaxar para me preparar para o fim-de-semana, que muitas vezes já começa na quinta, mas sem deixar de aproveitar o que a noite de quarta tem a oferecer. Ou seja, não é um dia de experimentar coisas novas, é dia de dar valor à casa e às nossas raízes no terreno em que nos sentimos mais confortáveis, mas ao mesmo tempo fugir do lugar comum.

Difícil de entender? Não para a Colorado Cauim. Pois apesar de ser a tradicional Pilsen do dia a dia ela tem um toque especial com um apelo bem raíz (desculpe a infâmia), à sua composição é acrescida mandioca.

Isso mesmo, fécula de mandioca para ser mais exata. Sua cor, não é cristalina como as pilsens costumam ser, é meio turva, lembrando a coloração de uma cerveja weiss até, mas sua espuma é bem branquinha e nada densa. Já foi eleita como a segunda melhor cerveja pilsen do país em 2008 (aposto que se essa eleição ocorresse na quarta-feira não teria para ninguém, era Colorado Cauim na cabeça). Sabor leve, refrescante, amargor suave.

Não é propriamente uma cerveja exótica, é uma cerveja tradicional, uma pilsen simplesmente, mas com aquele toque que deixa claro que nenhuma cerveja da Colorado é só uma cerveja. Ela é pensada e produzida com cuidado e zelo. Com o devido respeito que o néctar produzido com água, malte e lúpulo merece.

Até seu nome foi cuidadosamente pensado. Cauim é o nome de uma bebida alcóolica produzida pelos índios Tupinambás, mas consumida por várias tribos brasileiras da costa central. Era produzida adivinhem a partir do que? Claro, de mandioca. Mas dependendo da época do ano também podia ser produzida a partir do milho e frutas silvestres diversas.

Os índios produziam essa bebida fervendo a mandioca até que ela derretesse. As mulheres virgens da tribo (de preferência as mais bonitas) reuniam-se ao redor do recipiente onde o cauim era produzido, mastigavam a mandioca e depois cuspiam de volta para o recipiente. Parece que essa etapa do processo era o toque indígena ao cauim. Os portugueses quando chegaram ao Brasil tentaram produzí-lo, mas pulando essa etapa, que vamos combinar, não é lá das mais agradáveis nem de se pensar. Resultado, o cauim dos portugueses foi um verdadeiro fracasso. Isso acontece porque as enzimas da saliva atuam sobre as fibras e as transfomam em açúcares fermentados.

Ainda bem que a Colorado usou o cauim como inspiração para o nome e não para o processo de fabricação. Ufa!

De qualquer forma em uma coisa as cervejas de hoje ainda lembram em muito o cauim, independente de terem fécula de mandioca ou saliva em sua composição. Essa similaridade está no fato de que ambos nos deixam meio "tontos" como descreve a música de Ednardo " ...tonto de espanto, de amor e cauim, sou nau sem rumo em teu ardor imenso...".

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