segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cor-de-Rosa Choque

Hoje, não vou falar de uma cerveja especial, mas de uma relação especial.

A relação mulheres e cerveja, que não é nada nova. Sinto muito Catarina, mas não. Não estamos inovando com essa história. As mulheres estão intimamente ligadas à descoberta da cerveja e sua produção.

Sim, descoberta. Não há registros precisos, mas há suspeitas de que a cerveja nunca foi inventada, apenas descoberta e aprimorada.

Diz a lenda que há aproximadamente dez mil anos, alguém (provavelmente uma mulher) estava fazendo pão e deixou a massa descansando ao ar livre, foi então que veio a chuva e molhou essa massa que estava fermentando. Algum corajoso(a) resolveu experimentar esse caldo que se formou da mistura da água da chuva, massa de grãos e fermento e assim nasceu a cerveja.

Justamente por causa desta origem a cerveja era conhecida como "pão líquido". Produzida pelas mulheres e consumida em todos os lares inclusive por crianças. Juravam que a cerveja garantia o crescimento forte e saudável e que era tão fundamental quanto o pão na dieta de quaquer pessoa, independente de gênero ou idade.

Muitos anos depois, uma mulher na Alemanha, a beata Hildegard von Bingen 1179, abadessa beneditina, erudita e visionária, deu a primeira contribuição científica e técnica à produção de cerveja ao acrescentar o lúpulo na receita. No tratado Physica Sacra, ela afirmava: O lúpulo detém o apodrecimento e dá mais durabilidade à cerveja.

E é justamente o lúpulo, incorporado à fabricação que garante o sabor amargo tão característico deste precioso néctar e faz algumas pessoas, erroneamente, acharem que lhe confere um ar masculino. Nada disso, mais uma vez foi obra do toque feminino.

Ou seja, a relação das mulheres com a cerveja exite há milhares de anos. Por isso não provoque.
Ninkasi
Deusa da cerveja

Mais do que isso. Muitos podem ser os padroeiros da cerveja, mas divinamente a cerveja é representada por uma deusa. A deusa sumeriana Ninkasi, uma das oito crianças criadas para curar uma das oito feridas que Enki recebeu por comer as ervas criadas por Ninhursag para Tornar o paraíso mais bonito. Ela nasceu da “água fresca cintilante” e foi feita para “saciar o desejo” e “satisfazer o coração”.

Inclusive, entre as tábuas deixadas pelos Sumérios que descreviam o nascimento de Ninkasi e toda a religião oriunda do planeta Nibiru, foi encontrado um poema à deusa Ninkasi que nada mais era do que a primeira receita de cerveja conhecida.

Em 1989 a Cervejaria Anchor produziu em edição limitada, feita de acordo com essa receita a partir do bappir (termo sumério para descrever um pão feito com cevada maltada e farinha de cevada), água, malte, mel e tâmaras. Nada de lúpulo ou outro ingrediente amargo, o que dá um sabor consideravelmente mais doce do que o das cervejas modernas (para os cervejeiros artesanais de plantão que quiserem arriscar a preparar a cerveja Ninkasi, segue o poema no fim do texto).

De agora em diante, as mulheres farão um brinde a Ninkasi ao experimentar cada nova cerveja e assim, certamente, poderemos contar com sua benção nessa eterna busca pela cerveja perfeita.

Louvor à Ninkasi

Nascida da água corrente (…)
Delicadamente cuidada por Ninhursag
Nascida da água corrente (…)
Delicadamente cuidada por Ninhursag


Tendo fundado sua cidade pelo lago sagrado,
Ela rematou-a com grandes muralhas por você,
Ninkasi, fundando sua cidade pelo lago sagrado,
Ela rematou-a com grandes muralhas por você.


Seu pai é Enki, Senhor Nidimmud,
Sua mãe é Ninti, a rainha do lago sagrado,
Ninkasi, seu pai é Enki, Senhor Nidimmud,
Sua mãe é Ninti, a rainha do lago sagrado.


Você é a única que maneja a massa,
com uma grande pá,
Misturando em uma cova o bappir com ervas aromáticas doces,
Ninkasi, você é a única que maneja
a massa com uma grande pá,


Misturando em uma cova o bappir com tâmaras ou mel.
Você é a única que assa o bappir
no grande forno,
Coloca em ordem as pilhas de sementes descascadas,
Ninkasi, Você é a única que assa
o bappir no grande forno,

Coloca em ordem as pilhas de sementes descascadas.

Você é a única que rega o malte
jogado pelo chão,
Os cães fidalgos mantém distância, até mesmo os soberanos,
Ninkasi, você é a única que rega o malte
jogado pelo chão,

Os cães fidalgos mantém distância, até mesmo os soberanos.

Você é a única que embebe o malte em um cântaro
As ondas surgem, as ondas caem.
Ninkasi, você é a única que embebe
o malte em um cântaro
As ondas surgem, as ondas caem.


Você é a única que estica a pasta
assada em largas esteiras de palha,

A frialdade dominou.
Ninkasi, Você é a única que estica
a pasta assada em largas esteiras de palha,
A frialdade dominou.


Você é a única que segura com ambas as mãos
o magnífico e doce sumo,
Fermentando-o com mel e vinho
(Você, o doce sumo para o eleito)
Ninkasi, (…)
(Você, o doce sumo para o eleito).


O barril filtrador, que faz
um som agradável,
Você ocupa apropriadamente o topo
de um grande barril coletor.
Ninkasi, o barril filtrador,
que faz um som agradável,
Você ocupa apropriadamente o topo
de um grande barril coletor.


Quando você despeja a cerveja filtrada
do barril coletor,
é como os barulhos dos cursos
do Tigris e do Euphrates.
Ninkasi, você é a única que despeja
a cerveja filtrada do barril coletor,
é como os barulhos dos cursos
do Tigris e do Euphrates.

Um comentário:

  1. A relação não é recente, eu sei. Nem a relação Catarina e cerveja é tão recente, mas a devoção sim. E eu sempre digo: quanto mais os homens acham que reinam absolutos no universo das cervejas, mas eles são devotos e gratos às mulheres, suas práticas e suas descobertas. E, claro, às suas feições, cheiros, gestos, palavras e atributos...

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